O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
169<br />
permanentemente a psicologia, a sociologia e a antropologia nos modos como as enten<strong>de</strong>mos<br />
hoje. Nesse aspecto, ele foi um precursor da antropologia da vida social contemporânea<br />
porque, ao invés <strong>de</strong> abstrair os microprocessos e relações sociais, utilizando categorias <strong>de</strong><br />
análise amplamente totalizadoras, como estrutura, sistema, socieda<strong>de</strong>, norma e outras 5 ,<br />
Simmel propõe que as relações sociais <strong>de</strong>vem ser analisadas diretamente como transações<br />
espontâneas entre indivíduos, atos <strong>de</strong> interação, atos <strong>de</strong> fala, <strong>de</strong> conversação, atos <strong>de</strong><br />
socialida<strong>de</strong> elementar. Com isso, Simmel valoriza amplamente a condição da experiência, da<br />
historicida<strong>de</strong> e do mundano na existência humana, para ele sempre infinitamente criativa,<br />
fragmentada, múltipla e conflitual.<br />
Comparado a um “esquilo filosófico” por Ortega y Gasset, “porque aceitava o assunto<br />
que escolhia como uma plataforma para executar sobre ela seus maravilhosos exercícios <strong>de</strong><br />
análise” (apud MORAES FILHO, op. cit. p. 12), visto como pensador psicologista, formalista<br />
e assistemático (apud MAYNTZ, op. cit., p. 612), Simmel não teve o mesmo renome e a<br />
influência <strong>de</strong> Durkheim e Weber na institucionalização da sociologia mundial. Ele mesmo<br />
previu este <strong>de</strong>stino, ao escrever em seu diário que não <strong>de</strong>ixaria her<strong>de</strong>iros porque sua herança<br />
se dispersaria e passaria <strong>de</strong> mão em mão. De fato, boa parte <strong>de</strong> seu pensamento sociológico<br />
passou a ser moeda corrente sem seguir vinculado a seu nome.<br />
Hoje, assistimos a um interesse crescente por sua obra nas mais diversas áreas 6 .<br />
Exemplos bem recentes, particularmente na Antropologia, mostram que o pensamento<br />
simmeliano inspira estudos sobre: mediação e trânsito cultural nas metrópoles (VELHO &<br />
KUSCHNIR, 2001); novas formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> no ciberespaço, na esteira dos trabalhos<br />
<strong>de</strong> Michel Maffesoli (LEMOS, 1995; MAXIMO, 2002); trajetória e memória urbanas<br />
(ECKERT C. & ROCHA, 1999); antropologia das socieda<strong>de</strong>s pesqueiras (MALDONADO,<br />
1994); sociabilida<strong>de</strong> ameríndia na Amazônia (VIVEIROS DE CASTRO, 2000), na etnologia.<br />
5 Ver, por exemplo, uma comparação dos métodos sociológicos entre Parsons e Simmel, em Levine (op. cit.)