O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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e do dom, para discutir a atualidade destes dois temas dentro da historia da nossa disciplina.
Como corolário destes dois últimos capítulos, anoto que três eventos rituais emblemáticos
aparecem na sociabilidade e na cultura ritual do ilhéu: a farra do boi, ligada ao mundo da
diversão, do ócio e do sacrifício animal; o culto-festa do Divino, ligado ao mundo mágicoreligioso
e espaço privilegiado de execução das promessas; e a pesca artesanal da tainha,
ligada ao mundo do trabalho, da hierarquia e da camaradagem. Nesta mesma perspectiva,
aponto que o “Boi”, o “Divino” e a “Tainha” poderiam ser tomados como síntese da
cosmologia ilhôa, isto é, como cifras da visão de mundo do ilhéu, informada por crenças em
seres fantásticos que se metamorfoseiam, onde pontuam bruxas, lobisomens, borboletas,
maus-olhados e bem-querências. São as metáforas dos três eventos rituais emblemáticos da
sociabilidade e da cultura do ilhéu, açoriano-descendente: a farra do boi, ligada ao mundo da
diversão, da terra, do mato, do ócio, da ferocidade e do sacrifício animal; o culto-festa do
Divino, ligado ao universo mágico-religioso, sinal (emblematizado pela pomba e bandeira
peditoria) dos ventos do Espírito (império posterior ao do Pai e do Filho), sendo também o
espaço privilegiado de execução das promessas; e a pesca artesanal da tainha, ligada ao mar e
ao mundo do trabalho como camaradagem. Onde houver uma localidade litorânea em Santa
Catarina, cuja população seja, em sua maioria, de ascendência açoriano-brasileira, estes três
eventos rituais estarão presentes e combinados em suas mais variadas formas.
O trabalho de campo, deu-se no período entre agosto de 2000 a janeiro de 2002.
Vendo-o de fora, não posso deixar de notar que em cada lugar tive que vestir uma roupagem
diferente. Nos Estados Unidos, fiz uma incursão pelas cidades de Providence, Fall River e
New Bedford, todas situadas na região da Nova Inglaterra, nordeste do país 3 . Dispondo de
3 Agradeço ao Dr. João Leal do Centro de Estudos de Antropologia Social (CEAS) do Instituto Superior de
Ciências do Trabalho e da Empresa, hoje, Universidade Metropolitana de Lisboa, pelo convite a participação em
seu projeto:“EUA e Brasil: Processos de Transnacionalização da Açorianidade” e pela ótima parceria efetuada
no trabalho de campo tanto na Nova Inglaterra, quanto no Brasil. O projeto, financiado pela Fundação para a
Ciência e a Tecnologia de Portugal e Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, teve ainda o apoio do
Department of Portuguese and Brazilian Studies da Universidade de Brown (Providence, RI), na pessoa de seu