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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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O calendário acima <strong>de</strong>scrito é um mo<strong>de</strong>lo e, como tal, resolve-se ou dissolve-se nos<br />

espaços e tempos das situações particulares. Assim, quanto mais nos afastarmos dos centros<br />

urbanos, indo para o interior da Ilha ou comunida<strong>de</strong>s litorâneas, mais nos aproximaremos do<br />

mo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>scrito.Quanto mais nos afastarmos do tempo presente, indo até há duas ou<br />

mais décadas, tanto mais “íntegra” ficará a <strong>de</strong>scrição total dos ciclos. Já, se nos aproximarmos<br />

do tempo presente, mais o mo<strong>de</strong>lo sofrerá as injunções do processo <strong>de</strong> ‘comoditização’ das<br />

festas, dos apelos do turismo e do folclore e das tendências à musealização, exotização ou<br />

monumentalização <strong>de</strong>stes eventos. Sugiro que esta tendências não <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>monizadas,<br />

mas encaradas como novos cenários <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s para re-elaborações culturais <strong>de</strong> toda<br />

or<strong>de</strong>m. É evi<strong>de</strong>nte que, no geral, estas tradições e os sentidos atuais atribuídos a elas não mais<br />

resi<strong>de</strong>m na ecologia rural que secularmente as engendrou. Não obstante, o trabalho <strong>de</strong><br />

rememoração e comemoração dos antigos modos <strong>de</strong> vida, por meio <strong>de</strong> performances e<br />

representações culturais, inclusive as releituras constantes que as novas gerações introduzem a<br />

partir das lembranças dos velhos, representam a dinâmica seletiva dos jogos da memória, numa<br />

articulação permanente entre a lembrança e o esquecimento. Assim, enquanto alguns grupos<br />

organizados fazem representar o passado cultural dos açorianos, tomando-o como objeto <strong>de</strong><br />

performance e fortalecimento da auto-estima, em outras comunida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> tais<br />

grupos ou agenciamentos, a vivência dos costumes se dá no presente, como repetição, sem<br />

celebração musealizada do passado. Neste sentido - e aqui, numa palavra, meu argumento<br />

central - a <strong>de</strong>scrição aqui feita, não se inspirou na busca do prístino, procedimento que<br />

caracteriza certos discursos <strong>de</strong> tipo folk que atravessam as Ciências Sociais. Ao invés <strong>de</strong><br />

procurar as certezas da autenticida<strong>de</strong> das tradições, a <strong>de</strong>scrição das festas e ritos ilhéus serve

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