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gran<strong>de</strong> a pressão exercida pelos sargentos, cabos e soldados, sempre esperançosos por<br />

mudanças internas, em favor da Revolução.<br />

E essa pressão era sentida, logicamente pelos não a<strong>de</strong>rentes à Revolução, como uma<br />

pressão entre grupos, particularmente dos sargentos contra o grupo dos oficiais. O contra<br />

revolucionário, então tenente, Antônio Carlos Muricy conta que na unida<strong>de</strong> em que servia, no<br />

1º Regimento <strong>de</strong> Artilharia Montada, sediado no Rio <strong>de</strong> Janeiro, em 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1930, a<br />

notícia da Revolução havia estourado como um rastilho e que<br />

93<br />

houve nesse momento uma coisa por <strong>de</strong>mais impressionante: toda a angústia, todo o<br />

pânico contido explodiu. E os sargentos e a solda<strong>de</strong>sca começaram: "Hê, hê, hê..."<br />

Uma anarquia absoluta. E nós, oficiais, olhamos uns para os outros, nos encostamos<br />

na pare<strong>de</strong>, nem falamos, só dissemos assim: 'Vamos!' E pusemos o regimento em<br />

forma, à coronhada. 160<br />

O simbolismo do ato narrado pelo velho general, ao se lembrar <strong>de</strong> que havia, <strong>de</strong> um<br />

lado, oficiais e <strong>de</strong> outro as praças; a utilização do termo “solda<strong>de</strong>sca”, termo <strong>de</strong>preciativo<br />

relacionado aos soldados; a referência à “angústia”, ao “pânico” e à “anarquia”; e, <strong>de</strong>pois, a<br />

reconstrução da or<strong>de</strong>m, por parte dos oficiais, pelo uso da força, “à coronhada”, po<strong>de</strong>m ser<br />

caracterizados como sintomas do ambiente <strong>de</strong> socialização militar da época e da dinâmica<br />

relacional entre os oficiais e as praças, particularmente os sargentos.<br />

O quadro político confuso havia aberto a válvula <strong>de</strong> escape <strong>de</strong>ssas tensões que eram<br />

internas, mas, também, com fortes conotações políticas. O fluxo <strong>de</strong> indisciplina <strong>de</strong> 1930, com<br />

a revolução varguista como os outros movimentos anteriores, e posteriores, <strong>de</strong> rebeldia,<br />

aguardava somente uma brecha para jorrar para <strong>de</strong>ntro dos quartéis, pondo às claras disputas<br />

internas camufladas pelas relações disciplinares.<br />

A <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> disciplina era muito fluida nesse período <strong>de</strong> turbação generalizada.<br />

Para os <strong>de</strong>fensores do status quo, os sargentos que participaram da Revolução eram<br />

indisciplinados e causadores <strong>de</strong> anarquia. Para os oficiais rebel<strong>de</strong>s, eles haviam ajudado na<br />

empreitada revolucionária e podiam ser, por isso, recompensados. Ainda durante o andamento<br />

da Revolução, muitos sargentos foram comissionados a tenentes, pela falta <strong>de</strong> oficiais do lado<br />

revolucionário. Finda a revolução, no mês seguinte à posse <strong>de</strong> 03 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1930, do<br />

ex-sargento Getúlio Vargas, o Regulamento do Serviço Militar foi modificado. A temática que<br />

sofreu ajustes foi a que tratava da permanência das praças no serviço ativo do Exército,<br />

160 MURICY, Antônio Carlos da Silva. Antônio Carlos Murici I (<strong>de</strong>poimento, 1981). Rio <strong>de</strong> Janeiro, CPDOC,<br />

1993, p. 86. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/historal/arq/Entrevista35.pdf; Acesso em: 15 Dez 2011.

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