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d. Estagnação social fetichizada<br />

Os sargentos, normalmente originários <strong>de</strong> famílias menos abastadas, não <strong>de</strong>viam dar<br />

mostras <strong>de</strong> posses muito além do limite <strong>de</strong> uma vida medianamente digna. A posse, por parte<br />

<strong>de</strong> um sargento, <strong>de</strong> signos <strong>de</strong> riquezas materiais que ultrapassassem a <strong>de</strong> uma casa mo<strong>de</strong>sta<br />

em um bairro periférico e um carro com alguns anos <strong>de</strong> uso, po<strong>de</strong>ria ser motivo <strong>de</strong><br />

investigação por parte dos seus comandantes e <strong>de</strong> inveja por parte <strong>de</strong> colegas sargentos. O<br />

coletivismo relativo à socialização militar ia, portanto, muito além dos muros do quartel. Ele<br />

chegava a invadir a intimida<strong>de</strong> familiar dos sargentos e <strong>de</strong> todos os militares <strong>de</strong> uma maneira<br />

geral, tentando controlar suas posses, reagindo diante <strong>de</strong> ostentações <strong>de</strong> bens que,<br />

supostamente, ultrapassassem as possibilida<strong>de</strong>s do soldo do praça.<br />

Conta Oliveira, que<br />

233<br />

o elemento que tinha dinheiro, na época, no quartel, ele era mal visto. O cara que<br />

tinha dinheiro, uma vida social elevada, ele era mal visto (…) Todos! Os sargentos,<br />

os oficiais, tudo. O cara que tinha, o cara que conseguia trocar <strong>de</strong> carrinho, naquela<br />

época que era difícil trocar <strong>de</strong> carro todo ano, nego ficava <strong>de</strong> olho nele (OLIVEIRA,<br />

2011).<br />

Ele ilustra esse comportamento com dois casos que soube já <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> acontecido,<br />

não os tendo presenciado. Um <strong>de</strong>les foi o <strong>de</strong> Valmor Weiss, 336 que, segundo o <strong>de</strong>poente “era<br />

tido como comunista (…) só porque ele tinha dinheiro 337 ” (OLIVEIRA, 2011). Contradição<br />

muito comum no imaginário militar, numa época em que qualquer motivação para o não<br />

alinhamento homogeneizante dos militares (social, i<strong>de</strong>ológico, político e econômico) em<br />

336 Oliveira conheceu Valmor Weiss quando trabalhava como contratado na Seção <strong>de</strong> Inativos e Pensionistas em<br />

Curitiba-PR, e Valmor Weiss já como anistiado político. O nome <strong>de</strong> Valmor Weiss é um ponto <strong>de</strong> contato<br />

com a história contada por outro <strong>de</strong> nossos <strong>de</strong>poentes, Abdon Luz. Este havia conhecido Valmor, em 1964,<br />

quando, segundo conta Abdon, estiveram presos juntos, em Curitiba. É interessante que o exemplo do<br />

emergente Valmor Weiss, sargento expulso nos anos 60, que se transformou em um empresário muito bem<br />

sucedido, tenha sido comentado por dois <strong>de</strong> nossos <strong>de</strong>poentes. Esse fato <strong>de</strong>monstra que, por mais que a<br />

intenção institucional durante o processo <strong>de</strong> socialização dos sargentos tenha apontado para uma <strong>de</strong>sejável<br />

estagnação social do grupo, manteve-se uma espécie <strong>de</strong> orgulho, por parte dos sargentos <strong>de</strong>poentes, em saber<br />

que um sargento tenha alcançado uma posição social <strong>de</strong> tanto prestígio e reconhecimento, como é a sua,<br />

atualmente.<br />

337 É bem possível que o sargento Valmor Weiss ainda não tivesse muitas posses, em 1964, mas como Oliveira já<br />

o conhecera nessa posição social, visou sua situação social nos anos <strong>de</strong> 1960 com a ótica <strong>de</strong> sua condição<br />

social atual. Crê, além disso, que ela tivesse sido o motivo da expulsão daquele sargento. Segundo a<br />

proposição da Câmara Municipal <strong>de</strong> Curitiba, que indicara Valmor Weiss como cidadão honorário <strong>de</strong><br />

Curitiba, fora o fato <strong>de</strong> ter sido “jornalista do jornal Última Hora, <strong>de</strong> 1959 a 1964, o que lhe custou não só a<br />

sua expulsão do Exército Brasileiro, no ano <strong>de</strong> 1964, mas também a prisão por mais <strong>de</strong> um ano, em razão <strong>de</strong><br />

ter-se posicionado contra o golpe militar”. Fonte: Projeto <strong>de</strong> lei ordinária 06.00020.2004, <strong>de</strong> 03 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />

2004, da Câmara Municipal <strong>de</strong> Curitiba. Disponível em:<br />

http://domino.cmc.pr.gov.br/prop2000.nsf/375e962013dfe0e4052569ba005c75ac/56f0d5c8ce205a8c03256e8<br />

900660af3OpenDocument; Acesso em: 16 Jul 11.

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