09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Exército como uma “estufa para mudar pessoas”, usaria essa tensão entre o mundo doméstico<br />

e o mundo da caserna em benefício <strong>de</strong> suas estratégias para controle dos seus homens<br />

(GOFFMAN, 1974, pp. 22-24).<br />

No caso <strong>de</strong> Barriles, o momento histórico fez com que essa tensão entre o mundo<br />

castrense transcen<strong>de</strong>sse o seu universo doméstico, influenciando sobremaneira seu universo<br />

social mais amplo, inclusive político. Seu irmão era político do Partido Trabalhista Brasileiro<br />

(PTB); seu pai era cabo eleitoral do mesmo partido. Fora obrigado a permanecer na “estufa”<br />

sem <strong>de</strong>la sair, por dois meses, por causa das tensões entre o universo institucional do Exército<br />

e o universo político. Os dois atores principais, responsabilizados por essa tensão, Leonel<br />

Brizola e João Goulart, eram <strong>de</strong> seu estado. O inimigo <strong>de</strong>clarado, no ambiente dos quartéis,<br />

segundo Barriles, era “aquele movimento que existia, do...Grupo dos Onze” (BARRILES,<br />

2011), criado por Leonel Brizola.<br />

O Grupo dos Onze, pelo que pensa Barriles, era formado<br />

188<br />

por gente comum assim, do interior. Inclusive eu tinha um primo, casado com uma<br />

prima minha lá, que ele era...sem noção, era um caboclo, um caboclo xucro, como<br />

se diz, né. E ele era um componente do Grupo dos Onze (BARRILES, 2011).<br />

Segundo Barriles, havia reuniões <strong>de</strong>sse grupo em Porto Alegre e, em Santa Rosa,<br />

duzentas, trezentas pessoas saíam <strong>de</strong> trem para a capital. O objetivo do grupo era “entrar em<br />

combate para tomar o po<strong>de</strong>r”. O Rio Gran<strong>de</strong> do Sul estava minado “nessa parte aí, do Brizola<br />

(…) E o Exército, o Governo foi vendo isto. O Exército foi tomando ação...” (BARRILES,<br />

2011).<br />

Durante a socialização militar <strong>de</strong> Barriles, o inimigo fora tomando forma no<br />

imaginário <strong>de</strong> sua coletivida<strong>de</strong>, durante as instruções, as locuções <strong>de</strong> seus comandantes em<br />

solenida<strong>de</strong>s militares, nas conversas informais entre oficiais e praças. Para Barriles, não havia<br />

dissociação entre governo e Exército, mesmo antes do fatídico golpe, em 31 <strong>de</strong> março.<br />

Nos escaninhos <strong>de</strong> sua memória, os eventos que ocorreram no pré-64 confun<strong>de</strong>m-se<br />

com os ocorridos no período pós-golpe <strong>de</strong> estado. A névoa que se a<strong>de</strong>nsa à medida em que<br />

nos distanciamos temporalmente dos eventos do passado acabam por mesclar eventos <strong>de</strong><br />

temporalida<strong>de</strong>s relativamente próximas. Sua socialização no universo político iniciou-se bem<br />

antes <strong>de</strong> ter começado sua socialização militar, que tomara forma em meio ao turbilhão<br />

político-militar <strong>de</strong> 1964. Bem possivelmente tivesse ouvido falar, ainda em finais <strong>de</strong> 1963,<br />

das exortações <strong>de</strong> Brizola, pela rádio Mayrink Veiga, para que se organizassem células

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!