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tempo diferente d´ “aquela época”, em que não havia direito formalizado <strong>de</strong> resposta por parte<br />

do transgressor. Hiperbolicamente A<strong>de</strong>ir atesta que, em muitos casos, as punições nem se<br />

relacionavam diretamente a transgressões reais, bastando apenas “o cara olhar para tua cara,<br />

[e] o capitão...que é normalmente um cara novo, né (…) não acochambrava muito não”<br />

(MOREIRA, 2011). Ainda que o exagero seja explícito nesse exemplo, o <strong>de</strong>poente <strong>de</strong>ixa claro<br />

que a atenção em relação à gravida<strong>de</strong> do ato, merecedor <strong>de</strong> punição, <strong>de</strong>pendia sobremaneira<br />

do alvitre subjetivo do punidor e da qualida<strong>de</strong> das relações que punidor e potencial punido<br />

mantinham. Esse mo<strong>de</strong>lo disciplinar pouco controlado em seus aspectos subjetivos, bastante<br />

emocional, fazia com que as punições e, em última instância, as exclusões acabassem sendo<br />

banalizadas e, muitas vezes, o <strong>de</strong>sejável fundo <strong>de</strong> justiça do ato <strong>de</strong> comandar e <strong>de</strong> disciplinar<br />

acabava sendo eclipsado pelo personalismo passional do oficial na função <strong>de</strong> comandante <strong>de</strong><br />

companhia. Retirar dos capitães o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> aplicar as punições mais rigorosas parece ter sido<br />

sentido por A<strong>de</strong>ir como um ganho em controle objetivo e para a disciplina.<br />

Mas A<strong>de</strong>ir aponta uma outra mudança, havida no seu período <strong>de</strong> militar da ativa,<br />

que, talvez, indique uma forte influência da socieda<strong>de</strong>, em seu nível macro, em relação à<br />

socialização militar. Segundo ele, no passado, “havia uma união muito boa do pessoal, porque<br />

você <strong>de</strong>pendia um do outro... existia uma <strong>de</strong>pendência maior. E hoje em dia eu creio que<br />

existe uma in<strong>de</strong>pendência maior” (MOREIRA, 2011). O papel da tecnologia teria um papel<br />

fundamental nessas mudanças, pois, segundo sua lógica, no passado, com muito menos<br />

ferramentas tecnológicas para se <strong>de</strong>sempenhar seus trabalhos, cada um dos militares acabava<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo mais uns dos outros. Além disso, em complemento à observação feita linhas atrás<br />

– e que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser paradoxal em certo sentido – A<strong>de</strong>ir crê que a aproximação maior<br />

entre os grupos hierárquicos <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> maneira concomitante ao crescente individualismo que<br />

tem crescido, segundo ele, nos dias atuais.<br />

A experiência <strong>de</strong> vida militar <strong>de</strong> A<strong>de</strong>ir José Moreira, iniciada em 1979, findou-se em<br />

2008, com sua ida para a reserva remunerada. Alguns meses antes, fora <strong>de</strong>signado para servir<br />

no 4º Batalhão <strong>de</strong> Aviação do Exército, em Manaus, mudando-se para a capital amazonense,<br />

com toda a sua família. Porém, diante do choque cultural, sua esposa e filhas retornaram<br />

sozinhas para Curitiba. Com as filhas no Colégio Militar <strong>de</strong> Manaus, A<strong>de</strong>ir solicitou, em<br />

caráter excepcional, transferência <strong>de</strong>las para o Colégio Militar <strong>de</strong> Curitiba, sem que ele<br />

tivesse sido transferido. Segundo o <strong>de</strong>poente, o próprio general do órgão gerenciador dos<br />

colégios militares do Exército havia ligado para o comandante <strong>de</strong> seu batalhão, a fim <strong>de</strong> se<br />

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