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crime não cometido, ou uma maneira <strong>de</strong> se evitar a reorganização <strong>de</strong> um núcleo <strong>de</strong> rebel<strong>de</strong>s<br />

em Curitiba, que na prática parece nem ter existido, pelo menos <strong>de</strong>le, Abdon jamais fizera<br />

parte.<br />

172<br />

e. Analfabetos e bacharéis: a educação formal dos sargentos<br />

Se a maior parte dos sargentos conservava-se como observadores passivos, diante<br />

das discussões políticas, guardavam, também, uma relativa distância dos bancos escolares,<br />

mantendo suas rotinas <strong>de</strong> apenas se <strong>de</strong>dicarem ao Exército. O estudo formal era para bem<br />

poucos, dispostos a trocarem o pouco tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso que tinham, dos horários apertados<br />

dos quartéis, pelo <strong>de</strong>sconforto das aulas noturnas e dos estudos nos finais <strong>de</strong> semana.<br />

De uma maneira geral, conta-nos Abdon Luz que em todo o período que esteve na<br />

ativa, nos quartéis, era difícil alguém ser visto com algum livro na mão. “Fora do quartel eu<br />

acredito que tinha, né...” (LUZ, 2011). A leitura que tinham era a oferecida nos próprios<br />

ambientes da caserna, durante os intervalos do almoço e, nos finais <strong>de</strong> semana, durante as<br />

horas vagas dos serviços <strong>de</strong> escala. Eram leituras <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração, com informações <strong>de</strong><br />

consumo rápido e sem profundida<strong>de</strong>, advindas normalmente <strong>de</strong> revistas, postas à disposição<br />

dos sargentos nos cassinos, com precário, mas algum controle. Segundo ele,<br />

era falta também, <strong>de</strong>...<strong>de</strong> cultura, né. Não traz o hábito da pessoa ler, né, a falta <strong>de</strong><br />

cultura. Quando a pessoa tem o hábito <strong>de</strong> ler é porque ele tem um pouquinho mais<br />

<strong>de</strong> cultura, né, na sua vida. (...) “É, no quartel, em qualquer lugar que tivesse, no<br />

cassino <strong>de</strong> sargentos, cassino <strong>de</strong> oficiais...tinha revista, mas livros mesmo, não tinha<br />

(LUZ, 2011)<br />

É o mesmo Abdon que, tendo conhecido sargentos semialfabetizados, ainda nos anos<br />

<strong>de</strong> 1960, reforça que “o estudo no quartel, na época da “Revolução” e pra cá um pouco ainda,<br />

era assim, muito baixo, o nível <strong>de</strong> cultura dos sargentos” (LUZ, 2011).<br />

Os sargentos rotulados <strong>de</strong> “incultos” não haviam sido simplesmente extintos, com o<br />

crescimento da relativa intelectualização e politização do grupo, nos anos <strong>de</strong> 1950 e 1960.<br />

Talvez tivessem permanecido como sendo uma ampla maioria. A diferença é que, se antes da<br />

guerra, não havia praticamente sargentos à margem dos rótulos <strong>de</strong> incultos, ru<strong>de</strong>s e rústicos,<br />

<strong>de</strong>pois da guerra, mais e mais membros da figuração dos sargentos se disponibilizaram a<br />

procurar os estudos como forma <strong>de</strong> ascen<strong>de</strong>rem socialmente e adquirirem respeito.

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