09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

publicados. As revistas e noticiários, em <strong>tese</strong>, seriam veículos efetivos <strong>de</strong> repasse <strong>de</strong><br />

informações, a respeito <strong>de</strong> assuntos que interessem a alta oficialida<strong>de</strong> serem difundidos para<br />

as camadas inferiores do Exército. É o <strong>de</strong>poente mesmo quem elabora a <strong>tese</strong> <strong>de</strong> que o<br />

discursos <strong>de</strong>sses folhetins, particularmente o Noticiário do Exército (NE) não se coadunam<br />

com a práxis da tropa:<br />

346<br />

O NE, eu tenho a impressão <strong>de</strong> que ele visa colocar algumas coisas do nosso dia a<br />

dia, mas que na verda<strong>de</strong> elas estão bastante modificadas, com algum intuito <strong>de</strong><br />

passar alguma mensagem específica. Eu não vejo no NE uma mensagem original do<br />

dia a dia da tropa. Eu vejo muitas mensagens <strong>de</strong> interesse do comando do Exército.<br />

Quando ele quer valorizar uma situação ou quer chamar a atenção pra um<br />

<strong>de</strong>terminado fato, ele coloca, às vezes, aquilo como se fosse do nosso dia a dia<br />

(Entrevista nº 6).<br />

Falseado por hipérboles ou eufemismos, e contaminado pelo politicamente correto, o<br />

discurso oficial tem encontrado problemas para explicar as causas <strong>de</strong> dissensões e coibir suas<br />

práticas, entre os elementos inferiores. Em momento anterior, que o <strong>de</strong>poente reputa como<br />

sendo até meados da década <strong>de</strong> 1990, o gasto disciplinar e discursivo da alta oficialida<strong>de</strong> era<br />

minimizado pela própria ação dos pares. Eles mesmos infligiam duras penalida<strong>de</strong>s sociais,<br />

imputando uma espécie <strong>de</strong> ostracismo (apesar da proximida<strong>de</strong> física) aos dissi<strong>de</strong>ntes, que se<br />

atreviam a contestar judicialmente a respeito <strong>de</strong> assuntos que, em <strong>tese</strong>, eram <strong>de</strong> trato<br />

exclusivo da Instituição. Aqueles que digladiavam judicialmente contra a figura reificada do<br />

“Exército” podiam ser estigmatizados pelos pares, até mesmo quando a causa fosse contra<br />

uma fonte comum <strong>de</strong> sofrimento coletivo para os grupos inferiores:<br />

quando aquele militar entrava na justiça, havia até um certo ar <strong>de</strong> afastamento dos<br />

próprios companheiros. Não sei se direcionado pelo próprio comando. O comando<br />

meio que colocava ele como uma ovelha negra. Havia um certo afastamento e esse<br />

militar ficava, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte se a causa <strong>de</strong>le era justa ou não, ele ficava um pouco<br />

meio como uma ovelha negra (Entrevista nº 6).<br />

Contudo, pelo que <strong>de</strong>monstra o <strong>de</strong>poente, em algum ponto, a partir dos anos finais da<br />

década <strong>de</strong> 1990, os pares passaram a não mais estigmatizar os que encontravam no judiciário<br />

um auxílio contra o po<strong>de</strong>r autocrático da alta oficialida<strong>de</strong>. Segundo ele, “entre os pares já<br />

começou o pessoal a não fazer distinção <strong>de</strong> militar que tem causa na justiça” (Entrevista nº<br />

6). Talvez uma explicação seja a influência <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong> ampla cidadania e <strong>de</strong> amplos<br />

direitos, que, em amplo florescimento, passou a se reverberar nas classes médias urbanas do<br />

país, nessa época (RODRIGUES, 2008, pp. 146-172).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!