09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

das diferenças geracionais e do <strong>de</strong>sencontro entre a socialização primária, familiar – A<strong>de</strong>ir<br />

com uma socialização mo<strong>de</strong>lar campesina e aqueles recrutas, segundo ele, <strong>de</strong> origem<br />

majoritariamente urbana –, tinham origens sociais similares e estavam sendo<br />

profissionalmente socializados por métodos muito semelhantes. Segundo o sargento A<strong>de</strong>ir,<br />

naquelas palestras, ele “trazia a... experiência para eles ali”, contando, <strong>de</strong> forma moralizante,<br />

sua história <strong>de</strong> vida:<br />

251<br />

Eu fui pobre, fui criado no mato (…) Nós tinha o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fazer o trabalho... porque<br />

sabia que o nosso trabalho ajudava o nosso pai (…) E vocês têm tudo aqui (…) E<br />

vocês não dá valor...! (MOREIRA, 2011).<br />

Um jogo <strong>de</strong> palavras que potencialmente apascentaria, nos mais crédulos, possíveis<br />

atos <strong>de</strong> rebeldia social, pela exemplarida<strong>de</strong> da história <strong>de</strong> um menino pobre, socializado na<br />

dura faina da roça, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança, que se transforma no sargento-brigada <strong>de</strong> um batalhão do<br />

Exército. Um exemplo <strong>de</strong> como a dura disciplina imposta pelos pais e, <strong>de</strong>pois, a<br />

autodisciplina, aliadas à perseverança e à fé em Deus (afinal essas palestras foram chamadas<br />

por A<strong>de</strong>ir <strong>de</strong> “orientações cristãs”), po<strong>de</strong>riam conduzir um homem a uma recompensa <strong>de</strong><br />

relativa ascensão social (MOREIRA, 2011).<br />

Talvez a intencionalida<strong>de</strong> disciplinar <strong>de</strong>ssas “orientações cristãs” <strong>de</strong> A<strong>de</strong>ir fosse mais<br />

profunda do que a condução dos ouvintes a crerem numa continuida<strong>de</strong> linear entre a<br />

socialização primária da família e a secundária do quartel. Nas suas palestras ele se lembra<br />

que remetia os assistentes ao relacionamento familiar, dizendo que muitos não dão valor ao<br />

pai e à mãe, “não trata bem a mãe...você vai ser tratado conforme a maneira que você vai<br />

portar-se aqui” (MOREIRA, 2011). Explícita, portanto, a relação que faz A<strong>de</strong>ir da<br />

socialização primária com a secundária. A diferença, porém, é que, se na socialização<br />

primária o símbolo <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, que seria a mãe, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>srespeitado sem maiores<br />

consequências, na socialização secundária militar, a disciplina, chamada por A<strong>de</strong>ir <strong>de</strong><br />

“doutrina” (MOREIRA, 2012) <strong>de</strong>veria ser mantida, sob pena <strong>de</strong> gerar o sofrimento do<br />

indisciplinado.<br />

Não po<strong>de</strong>mos subjugar a plausibilida<strong>de</strong> da analogia entre a autorida<strong>de</strong> paterna e<br />

materna, e a autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superiores hierárquicos. Todavia, possivelmente, a fragilização dos<br />

assistentes tivesse um papel ainda mais relevante na intenção disciplinadora, não só dos<br />

recrutas, mas também <strong>de</strong> sargentos, pois, segundo A<strong>de</strong>ir, “a lágrima <strong>de</strong>scia do sargento ali,<br />

sargento ali se comovia...” (MOREIRA, 2011).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!