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das praças terem reconhecida a sua cidadania e uma suposta mutação no fluxo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res,<br />

entre os grupos que constituem o Exército. Para aquele autor,<br />

294<br />

Estas discussões a respeito da cidadania militar foram provocadas, na sua maioria,<br />

por associações <strong>de</strong> praças, ou seja, soldados, cabos e sargentos, que se sentiram<br />

lesados em seus direitos. A Associação <strong>de</strong> Praças do Exército Brasileiro – APEB,<br />

que tem criado <strong>de</strong>bates polêmicos, não é a única associação; a Ambiente Militar<br />

também é composta <strong>de</strong> praças, como já referido anteriormente. Portanto, há uma<br />

mobilização <strong>de</strong> baixo para cima que teve o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> alterar o rumo das coisas,<br />

chegando a mudar o Regulamento Disciplinar do Exército, o que não é pouca coisa.<br />

A or<strong>de</strong>m tradicional anteriormente estabelecida per<strong>de</strong> a segurança e estabilida<strong>de</strong>, e<br />

dá lugar à novida<strong>de</strong>, respaldada na legitimida<strong>de</strong> (KUHLMANN, 2004, p. 8).<br />

Com a or<strong>de</strong>m anterior per<strong>de</strong>ndo estabilida<strong>de</strong>, sem uma completamente nova para ser<br />

posta em seu lugar, há uma mescla heterogênea e elementos concertados sob o cetro <strong>de</strong> uma<br />

legitimida<strong>de</strong>, supostamente presumida. Nesse sentido, esse sistema compósito <strong>de</strong> novos e<br />

velhos arquétipos acaba permitindo o surgimento <strong>de</strong> hiatos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que, até que se estabeleça<br />

um acordo, ainda que tácito, a respeito <strong>de</strong> quem os irá assumir, <strong>de</strong>ixam à <strong>de</strong>riva aqueles que<br />

foram socializados sob o jugo da velha or<strong>de</strong>m. Dessa tensão entre as forças vetoriais em jogo,<br />

surgem as crises, as contradições, os <strong>de</strong>sencontros, as ina<strong>de</strong>quações datadas.<br />

Daí, no nosso caso concreto, a aparente contradição entre os sargentos que, ao<br />

mesmo tempo em que exigem dos oficiais um tratamento mais cidadão, humanitário, justo,<br />

também anseiam por uma ação disciplinar mais efetiva, <strong>de</strong>sses mesmos oficiais, em relação a<br />

seus próprios colegas sargentos, que não se enquadram ao sistema laboral. O indivíduo<br />

socializado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um organismo burocrático tradicional reage <strong>de</strong> uma maneira tradicional,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma nova or<strong>de</strong>m que não é mais a tradicional. As novas formas <strong>de</strong> organização da<br />

socieda<strong>de</strong> exigem um outro sistema <strong>de</strong> pensamento, que ainda não se construiu, mas está em<br />

processo. A or<strong>de</strong>m mutante não <strong>de</strong>u tempo, ainda, para que os arranjos e rearranjos dos dois<br />

grupos se acostumem com as suas novas liberda<strong>de</strong>s, nem com as suas novas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>las advindas.<br />

Os <strong>de</strong>fensores da antiga or<strong>de</strong>m, normalmente aqueles que <strong>de</strong>têm consigo um<br />

coeficiente maior <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro da figuração social, digladiam tenazmente pela manutenção<br />

do seu status quo, opondo-se à maioria das formas <strong>de</strong> mudança que po<strong>de</strong>m alterar aquele<br />

coeficiente.<br />

No caso do Exército, a velha or<strong>de</strong>m é representada pela <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um estilo <strong>de</strong><br />

comando militar autoritário, cujas características principais são a subjetivida<strong>de</strong> controlada das

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