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como era o americano, o retorno ao Exército <strong>de</strong> Caxias e aos seus rituais <strong>de</strong> intenso e zeloso<br />

separatismo, que pouco tem a ver com a socialização militar propriamente dita ou com a<br />

manutenção da disciplina, e muito mais relacionado com a alimentação <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>s pessoais,<br />

<strong>de</strong>ve ter sido bastante difícil. A sociabilida<strong>de</strong> militar na guerra, em alguns momentos, tendia a<br />

se apresentar como <strong>de</strong> um teor bastante distinto da sociabilida<strong>de</strong> do Exército <strong>de</strong> Caxias.<br />

Francisco Ferraz comenta que os pracinhas tomaram contato na Itália com<br />

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um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> exército, menos autocrático, composto <strong>de</strong> cidadãos-soldados<br />

mais conscientes <strong>de</strong> seu papel na guerra, e cujo rigor na emissão e cumprimento <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>ns priorizava a eficiência em combate. Esta cultura militar era bem diferente<br />

daquela vivenciada no ‘Exército <strong>de</strong> Caxias’, no qual a superiorida<strong>de</strong> hierárquica e<br />

suas emanações resultavam na tiranização do praça às vonta<strong>de</strong>s e or<strong>de</strong>ns nem<br />

sempre justificáveis dos oficiais (FERRAZ, 2004, p. 370).<br />

Contudo o aprendizado <strong>de</strong>ssa nova cultura fora gradual. Os militares regulares que<br />

foram para o teatro <strong>de</strong> operações em solo italiano levaram consigo o método <strong>de</strong> trato<br />

aprendido no Exército <strong>de</strong> Caxias e muitos <strong>de</strong>moraram a temperá-lo com a nova cultura militar<br />

<strong>de</strong> guerra. Maximiano conta que<br />

Certo dia, durante o acampamento, o 2º sargento-auxiliar Pontes tinha posto o<br />

pelotão em forma. A alguns metros <strong>de</strong> distância, Gonçalves observava, <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

sua barraca, o modo que ele empregava no trato com a tropa. Vituperava<br />

abrutalhadamente, ofen<strong>de</strong>ndo os soldados com ru<strong>de</strong>za <strong>de</strong>snecessária. Pontes, ainda<br />

imbuído do velho espírito autoritário, acreditava que tratar a tropa <strong>de</strong> forma cordata<br />

e respeitosa redundaria em <strong>de</strong>sleixo dos padrões disciplinares. Quando o sargento<br />

terminou, Gonçalves chamou-o na entrada <strong>de</strong> sua barraca: 'Pontes. Não fique<br />

tesando os soldados. Nós vamos entrar em combate <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> alguns dias. Isso aqui<br />

não é o Exército <strong>de</strong> Caxias. Não é necessário tratar os homens <strong>de</strong>ssa forma'. Meio<br />

que contrariado, o sargento aquiesceu à orientação <strong>de</strong> seu comandante<br />

(GONÇALVES&MAXIMIANO, 2005, p. 66).<br />

Mas em geral, a relativa flexibilização entre as hierarquias dava a tônica das<br />

relações, durante o período em que o Brasil esteve na guerra, por conta mesmo da necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> íntima confiança entre os membros funcionalmente mais próximos, mas <strong>de</strong> posições<br />

hierárquicas diferentes.<br />

A prática das sociabilida<strong>de</strong>s em comum, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das graduações, o tratamento<br />

relativamente cordial, mas espontâneo <strong>de</strong>mais para os padrões distintivos e servilistas do<br />

Exército <strong>de</strong> Caxias, na ótica daqueles que não atravessaram o Atlântico, ou daqueles que<br />

foram para a Itália, mas não se <strong>de</strong>svencilharam do mo<strong>de</strong>lo nacional, pareciam mesmo<br />

liberda<strong>de</strong>s nocivas à manutenção da disciplina.

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