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naqueles costumes.<br />

O Grêmio dos subtenentes e sargentos, <strong>de</strong>sse modo, representava um papel<br />

importante na socialização dos sargentos, no sentido <strong>de</strong> ser uma instituição que tinha sob seu<br />

encargo apresentar aos sargentos, e aos seus familiares, os maneirismos e os trejeitos do grupo<br />

social <strong>de</strong>ntro do qual eram introduzidos. Parece ficar claro, <strong>de</strong>sse modo, que os sargentos da<br />

década <strong>de</strong> 1950 em diante, diferente dos seus colegas das décadas <strong>de</strong> 1930 e 1940, viam-se<br />

como uma emergente “classe média”, mas com hábitos a serem polidos.<br />

Explicar-se-ia, então, a discriminação dos oficiais em relação aos sargentos, pois é<br />

bem possível que houvesse a percepção dos oficiais <strong>de</strong> que surgira no seio da “classe” dos<br />

sargentos uma tentativa <strong>de</strong> mimetizar costumes que, segundo o pensamento dos oficiais, lhes<br />

fossem superiores, muito distantes <strong>de</strong> sua pertença social. I<strong>de</strong>ntifica-se, na figuração<br />

composta pelos sargentos e oficiais, um mesmo padrão <strong>de</strong> relações i<strong>de</strong>ntificado por Norbert<br />

Elias, quando da sua elaboração conceitual <strong>de</strong> “estabelecidos e outsi<strong>de</strong>rs”. Segundo Elias,<br />

155<br />

O padrão do movimento das relações entre os grupos é que os outsi<strong>de</strong>rs se ressentem<br />

e se empenham em melhorar sua situação e aumentar seu status, enquanto os<br />

estabelecidos, sentindo-se ameaçados, esforçam-se para manter o que já têm. Os<br />

outsi<strong>de</strong>rs são percebidos pelos estabelecidos como pessoas que não reconhecem seu<br />

lugar e agri<strong>de</strong>m suas sensibilida<strong>de</strong>s, portando-se <strong>de</strong> maneira a provar o estigma <strong>de</strong><br />

sua inferiorida<strong>de</strong> social. Ten<strong>de</strong>ndo a se conduzirem como iguais aos estabelecidos,<br />

os outsi<strong>de</strong>rs provocam reações daqueles, que po<strong>de</strong>m ser rotuladas muitas vezes<br />

como 'preconceito' ou 'discriminação' (ELIAS, 2000, pp. 174-175).<br />

Os guardiões morais da instituição, legitimados pelo regulamento disciplinar,<br />

juntamente com os guardiões morais do grupo dos sargentos, pretendiam incutir em seus<br />

membros um espírito <strong>de</strong> previsão e um relativo autocontrole. Nessa intenção civilizadora,<br />

havia o intuito <strong>de</strong> coibir-lhes sua frequência a espaços <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s supostamente<br />

<strong>de</strong>gradantes moralmente, preconceituosamente entendidos como <strong>de</strong>stinados às classes<br />

inferiores, particularmente os botequins e os lupanários.<br />

Na prática, o autocontrole parecia ser frouxo, e <strong>de</strong> certa forma legitimava o<br />

preconceito social dos oficiais, reforçando a certeza da inferiorida<strong>de</strong> dos sargentos a cada<br />

caso <strong>de</strong> quebra <strong>de</strong>sse tabu, que parecia constante. Constante, a ponto <strong>de</strong> ser encarado com<br />

uma certa naturalida<strong>de</strong>, ainda que preconceituosa, pelo <strong>de</strong>poente, o fato <strong>de</strong> sargentos viverem<br />

em “boteco enchendo a cara <strong>de</strong> cachaça, fazendo bagunça” (LUZ, 2011). Se Abdon frisa que<br />

em épocas mais recentes “não havia mais aquela coisa <strong>de</strong> querer punir o cara só porque uma<br />

noite encheu a cara <strong>de</strong> cachaça ou então foi na zona quebrou tudo lá” (LUZ, 2011) é porque

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