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são as palavras e i<strong>de</strong>ias, que não são inventados pelo indivíduo, mas que vêm dadas<br />

pelo seu entorno” (HALBWACHS, 2004, p. 54).<br />

261<br />

Entorno difícil, particularmente para sua mãe, viúva e com 4 filhos às suas expensas.<br />

De dona <strong>de</strong> casa no sítio, ela teve que se transformar em balconista, telefonista, auxiliar <strong>de</strong><br />

limpeza e do que mais aparecesse <strong>de</strong> trabalho. Com aci<strong>de</strong>z e bom humor, o <strong>de</strong>poente comenta<br />

que sua mãe “sempre fala que ela trabalhou em tudo que ela podia trabalhar e, se ela fosse<br />

outra, ela teria se prostituído, porque era muito mais fácil... (risos)” (Entrevista 5).<br />

Irmão mais novo entre os quatro filhos, o <strong>de</strong>poente diz ter tido uma infância pobre.<br />

Contudo acredita que seus irmãos mais velhos tiveram ainda menos sorte, pois viram-se<br />

obrigados a estudar todo o ensino fundamental em escolas municipais. Com essa narrativa, o<br />

<strong>de</strong>poente parece compor uma correlação muito íntima entre pobreza material e inferiorida<strong>de</strong><br />

qualitativa do ensino nas escolas públicas. Correlação que coaduna com um discurso<br />

historicamente construído no Brasil, por fortes influências <strong>de</strong> um pensamento<br />

economicamente liberal implantado no país, a partir dos anos <strong>de</strong> 1990.<br />

É provável que à época em que o <strong>de</strong>poente cursara o ensino fundamental não havia<br />

ainda uma correlação sedimentada nesse sentido, e que essa observação seja muito mais<br />

resultado <strong>de</strong> uma construção discursiva recente do que fruto <strong>de</strong> uma memória da época,<br />

especificamente o início dos anos <strong>de</strong> 1980. É novamente Maurice Halbwachs que ajuda a<br />

explicar esse fenômeno <strong>de</strong> amálgama entre passado e presente na memória do <strong>de</strong>poente.<br />

Segundo ele, o que vemos hoje se situa no contexto <strong>de</strong> nossas antigas lembranças e estas se<br />

adaptam ao conjunto <strong>de</strong> nossas percepções atuais, tudo isso acontecendo como se<br />

confrontássemos diversas testemunhas e diversas temporalida<strong>de</strong>s (HALBWACHS, 2004, p.<br />

25).<br />

Da 5ª à 8ª série, por meio <strong>de</strong> uma bolsa <strong>de</strong> estudos, fez seus estudos numa escola<br />

privada, regida por padres católicos. Segundo ele, nesse período ele percebia que a família<br />

havia começado a sofrer bem menos as ações da pobreza, pois seus irmãos mais velhos já<br />

trabalhavam e podiam ajudar na renda da família.<br />

Ao terminar o ensino fundamental, com cerca <strong>de</strong> 14 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, fora aprovado em<br />

um concurso público para estudante e aprendiz da antiga Re<strong>de</strong> Ferroviária Fe<strong>de</strong>ral (RFFSA),<br />

permanecendo na condição <strong>de</strong> aprendiz <strong>de</strong> 1985 a 1987. O curso <strong>de</strong> Mecânica Industrial<br />

exigia um estágio como trabalhador aprendiz, que seguia a rotina <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> um chão <strong>de</strong><br />

fábrica, com horários relativamente pouco rígidos: “pô, serviço público” ( Entrevista 5).

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