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superiores, o que também não parece concreto.<br />

Sobre os cabos e soldados, há dois elementos que po<strong>de</strong>riam conduzir o autor, por<br />

tabela, a uma panfletagem em relação ao grupo <strong>de</strong> sargentos. O primeiro <strong>de</strong>les é que, na<br />

literatura sobre o Exército 15 , na maioria das vezes, os cabos e soldados aparecem como meros<br />

coadjuvantes nos movimentos políticos, e levantes armados, li<strong>de</strong>rados por sargentos e<br />

tenentes. O segundo é o fato <strong>de</strong> que, no pós-guerra, os sargentos passaram a assumir o papel<br />

informal <strong>de</strong> “patronos” (STEPAN, 1975, p. 118) dos soldados, em substituição aos oficiais. O<br />

risco <strong>de</strong> panfletagem seria corrido, no conjunto das análises, ao consi<strong>de</strong>rar a categoria dos<br />

“sargentos” como a sempre amiga, afetuosa, virtuosa e natural protetora e representante dos<br />

cabos e soldados. Isso reforçado pelo aspecto <strong>de</strong> que ambas as categorias estariam em<br />

comunhão quanto a serem “praças”.<br />

Essa é uma hipó<strong>tese</strong> tão frágil quanto a do general Góes Monteiro, adotada<br />

oficialmente pelo Exército ainda nos dias atuais 16 , sobre os oficiais serem os “<strong>de</strong>fensores<br />

naturais dos sargentos” (CARVALHO, 2005, p. 70). São hipó<strong>tese</strong>s que obe<strong>de</strong>cem a uma<br />

lógica, antes <strong>de</strong> tudo, disciplinar. Lógica que visa amputar as vozes dos grupos em questão,<br />

16<br />

15<br />

16<br />

Na Marinha houve movimentos exclusivos <strong>de</strong> cabos e soldados, como a Revolta da Chibata, <strong>de</strong> 1910,<br />

li<strong>de</strong>rada por João Cândido, e o Levante dos Marinheiros, <strong>de</strong> 1964, li<strong>de</strong>rado por José Anselmo dos Santos, o<br />

“cabo” Anselmo.<br />

O Estatuto dos Militares atual, no Parágrafo 3º <strong>de</strong> seu artigo 51, por exemplo, assevera que “ O militar só<br />

po<strong>de</strong>rá recorrer ao Judiciário após esgotados todos os recursos administrativos e <strong>de</strong>verá participar esta<br />

iniciativa, antecipadamente, à autorida<strong>de</strong> à qual estiver subordinado.” Utilizando o termo genérico “militar”,<br />

ele não aponta especificamente os sargentos, mas obviamente abarca toda essa categoria. Na construção do<br />

imaginário e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos sargentos, tanto os regulamentos como os exemplos da vida prática, ou<br />

mesmo da História (), são utilizados, normalmente referenciando-os indiscriminadamente como “militares”,<br />

no sentido <strong>de</strong> conferir uma certa igualda<strong>de</strong> quanto às regras e uma similitu<strong>de</strong> entre as carreiras. Em palestra<br />

realizada em 2005, na Escola <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Sargentos, em Cruz Alta-RS, o representante da 2ª<br />

Assessoria e Assuntos Relevantes do Gabinete do Comandante do Exército, ao ser perguntado acerca do<br />

“entendimento do Comando do Exército quanto à Associação <strong>de</strong> Praças do Exército – APEB”, respon<strong>de</strong>u<br />

que, <strong>de</strong> acordo com o RDE e com o Estatuto dos Militares, os militares eram proibidos <strong>de</strong> “participar <strong>de</strong><br />

entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, partidos políticos ou mesmo <strong>de</strong> manifestações coletivas, tanto sobre atos <strong>de</strong> superiores<br />

quanto as <strong>de</strong> caráter reivindicatório ou político. Portanto, qualquer entida<strong>de</strong> que traga em sua essência <strong>de</strong><br />

criação esses conceitos, acaba por ir <strong>de</strong> encontro aos ditames legais das servidões militares. Os militares das<br />

Forças Armadas constituem um grupo peculiar da socieda<strong>de</strong>, em que valores como a disciplina e a hierarquia<br />

são inegociáveis. A história nos lembra que o Império Romano começou a ruir quando seus soldados<br />

começaram a reclamar do peso <strong>de</strong> suas armaduras. A profissão militar é um sacerdócio. O militar que não<br />

consi<strong>de</strong>ra, ainda que remotamente, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Pátria com o sacrifício da própria vida",<br />

<strong>de</strong>ve, o quanto antes, repensar e redirecionar sua vida, evitando frustrações e fugas, estas últimas, muitas<br />

vezes, por meio <strong>de</strong> mecanismos não regulamentares e legais.”. Fonte: Estado Maior do Exército. Trabalho da<br />

Segunda Assessoria e Assuntos Relevantes. Perguntas e Respostas, Sem I<strong>de</strong>ntificação, Sem data.<br />

Quando Góes Monteiro escreveu seu asserto, o clima <strong>de</strong> agitação entre os sargentos havia tomado uma<br />

dimensão que chegou a assustar a oficialida<strong>de</strong> mais conservadora e ultrazelosa pela hierarquia e disciplina.<br />

Ainda estavam muito frescos no imaginário dos oficiais brasileiros os exemplos, tanto da formação do<br />

Exército Vermelho soviético, on<strong>de</strong> os oficiais foram todos mortos ou expulsos e seus cargos foram assumidos<br />

pelos praças, como do golpe do sargento cubano Fulgêncio Batista, em 1933.

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