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subordinado mais experiente, fez correções em todo o documento. Bastante melindrado com a<br />

atitu<strong>de</strong> do jovem oficial, o <strong>de</strong>poente afirma que, ato contínuo a esse fato, reuniu toda a<br />

legislação relacionada àqueles materiais e a entregou ao oficial. “Se o camarada sabe tudo,<br />

então vou <strong>de</strong>ixar ele fazer” (Entrevista 5). Afinal, em termos regulamentares, não seria função<br />

do sargento.<br />

O resultado prático <strong>de</strong>ssa rusga foi o oficial ter adotado os mesmos mo<strong>de</strong>los<br />

documentais utilizados pelo próprio sargento. O resultado simbólico, <strong>de</strong>monstrado<br />

subliminarmente no discurso do <strong>de</strong>poente, teria sido a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> espaços entre os saberes<br />

teóricos e práticos, com uma vantagem do saber prático (do sargento executante), em relação<br />

ao saber teórico (do oficial estudioso dos conceitos); e, a partir da construção <strong>de</strong>ssas<br />

fronteiras, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r relativo <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses saberes, na vida cotidiana dos<br />

quartéis, também com a relativa vantagem para o po<strong>de</strong>r do saber prático dos sargentos.<br />

I<strong>de</strong>almente – pelo menos, essa teria sido a intenção do <strong>de</strong>poente – o po<strong>de</strong>r do seu saber<br />

prático e a <strong>de</strong>sistência simbólica da execução <strong>de</strong> tarefas que, em <strong>tese</strong>, não lhes competia,<br />

teriam sido capazes <strong>de</strong> subjugar o oficial, em seu lugar social <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>.<br />

Para além <strong>de</strong>ssa maneira individualista e nada cortês <strong>de</strong> contrapesar po<strong>de</strong>res entre<br />

dois grupos <strong>de</strong> forças <strong>de</strong>siguais, o <strong>de</strong>poente, <strong>de</strong> acordo com sua experiência <strong>de</strong> vida, afirma<br />

que algumas modificações foram surgindo nesse aspecto. No caso específico e individual do<br />

<strong>de</strong>poente, ele afirma que, na atualida<strong>de</strong>, ele se utiliza <strong>de</strong> métodos menos hostis para se<br />

relacionar com seus superiores, normalmente por meio do diálogo. Segundo ele,<br />

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à medida que eu fui ficando mais antigo, você consegue administrar bem (...) Porque<br />

a gente já tem mais argumento (...) A parte da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direito também ajudou<br />

bastante, nisso. Porque aí eu já tinha conhecimento <strong>de</strong> muita coisa (Entrevista 5).<br />

Desse modo, parece claro para o <strong>de</strong>poente que o saber universitário, adquirido às<br />

suas expensas, <strong>de</strong>ra-lhe substância capaz <strong>de</strong> dialogar com seus superiores, à medida que,<br />

também, fora adquirindo experiência <strong>de</strong> vida militar. Mas no plano coletivo, segundo ele,<br />

também, parece ter havido uma mutação na escala vetorial dos saberes, entre grupos<br />

hierárquicos, que alterara a dinâmica relacional <strong>de</strong>sses grupos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período em que ele<br />

havia incorporado. Outrora, os oficiais, em regra, simplesmente davam suas or<strong>de</strong>ns, sem<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> sugestões ou acréscimos dos sargentos. Para a elaboração dos<br />

documentos administrativos, os oficiais rascunhavam os textos e os sargentos os

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