09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>de</strong> força assimétricos, e que, nesse momento, estariam em condição <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarada rivalida<strong>de</strong>,<br />

quanto maior o po<strong>de</strong>r lesivo das informações para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> coatora, maior o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

barganha do indivíduo do grupo mais fraco, que a essas informações recorrerá como arma <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa.<br />

O dialógico durante o processo <strong>de</strong> socialização militar, aliás, não ocorreria somente<br />

em um caso extremo <strong>de</strong> sua faceta disciplinar. No sentido relacional, também, haveria espaço<br />

para trocas discursivas, em <strong>de</strong>terminados momentos, on<strong>de</strong> a balança <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pen<strong>de</strong>sse para o<br />

lado mais fraco. Um diálogo que escapa daquele vetor dado a ler verticalmente, com<br />

superiores que or<strong>de</strong>nam seus subordinados e <strong>de</strong>les são aparentemente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes; e com<br />

subordinados que simplesmente obe<strong>de</strong>cem a or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> superiores e <strong>de</strong>les são inteiramente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Haveria casos em que, pelo contrário, as relações <strong>de</strong> íntima inter<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><br />

grupos opositores mantêm um indivíduo, inferior hierarquicamente, numa posição, até<br />

mesmo, <strong>de</strong> dominância em relação aos seus superiores hierárquicos.<br />

Num livro <strong>de</strong> causos e estórias, possivelmente baseado em fatos reais, escrito por um<br />

coronel do Exército, explicita, em dois momentos <strong>de</strong> sua narrativa, a sua condição <strong>de</strong><br />

passivida<strong>de</strong> em relação às vonta<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus subordinados. Uma <strong>de</strong>las fora quando se casou,<br />

nos anos <strong>de</strong> 1960, quando capitão. Conta que o personagem principal do livro, capitão Moura,<br />

ficara tenso com o seu soldado cozinheiro, incumbido <strong>de</strong> lhe fazer o banquete para a festa,<br />

pelo fato <strong>de</strong> o soldado ter sido recentemente, à época, punido por aquele capitão. Temia por<br />

represálias do soldado, que enfim não se concretizaram. A outra, acerca <strong>de</strong> um momento em<br />

que teve que passar por uma lavagem intestinal, conduzida por um sargento enfermeiro, ele<br />

<strong>de</strong>screve <strong>de</strong> maneira hilária:<br />

240<br />

E foi aí que um capitão po<strong>de</strong> sentir cair por terra todas as suas estrelas <strong>de</strong> cinco<br />

pontas, com globo azul, estrelado, também (...) De pouco lhe valeu a patente. Não<br />

conseguia livrá-lo <strong>de</strong> um ritual <strong>de</strong> fraca poesia, dirigido por um sargento enfermeiro,<br />

<strong>de</strong> feições e ações pouco cativantes, <strong>de</strong>sejoso, talvez, <strong>de</strong> vingar-se em Moura, <strong>de</strong><br />

algum complexo reprimido contra a raça dos capitães (VEIGA, 1989, pp. 89;158).<br />

Oliveira nos dá outros exemplos nesse sentido. O primeiro <strong>de</strong>les, ao narrar um<br />

episódio em que um oficial – aquele mesmo major que Oliveira acusara <strong>de</strong> dividir o grupo<br />

dos sargentos – presenciara uma ligação <strong>de</strong> Oliveira com um coronel, que servia em um<br />

importante gabinete em Brasília. O major ficara surpreso com as “ligações” <strong>de</strong> Oliveira, que,<br />

segundo afirma, sentindo “a fraqueza <strong>de</strong>le”, para com ele emendou: “se o senhor tiver algum

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!