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O capitão sentia o peso da cobrança do coronel, a repassava para seu elemento<br />

executante, o sargento, mas este não a absorvia como <strong>de</strong>veria, muito menos a executava.<br />

Quando Barriles a executou, o capitão – aliviado por recuperar sua plena autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comandante <strong>de</strong> companhia, aos olhos do coronel comandante do Regimento – sentiu-se<br />

obrigado a recompensar o cabo, ainda recruta, pela sua boa vonta<strong>de</strong>.<br />

203<br />

Porque o Andra<strong>de</strong> não fazia nada disso (…). Foi o primeiro comandante <strong>de</strong><br />

subunida<strong>de</strong> que entregou para o comandante do Regimento com tudo certo, com<br />

viatura, pneu... Ganhou um elogio do comandante do Regimento. Ficou... e eu fiquei<br />

(BARRILES, 2011).<br />

c. Distinções sociais e carreira<br />

As expectativas <strong>de</strong> um cabo recruta quanto ao seu futuro no Exército criaram nele<br />

um campo <strong>de</strong> forças que dificultava a sua recusa a qualquer tarefa. O cabo recruta sabia que<br />

suas potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ganhos e <strong>de</strong> perdas no Exército estavam ligadas diretamente às<br />

qualida<strong>de</strong>s pessoais e aptidões profissionais que podia mostrar a seus superiores.<br />

Em outro plano, isso indica também que a dinâmica entre as or<strong>de</strong>ns e as suas<br />

execuções no cotidiano dos quartéis parece não ser tão rígida quanto preten<strong>de</strong> o i<strong>de</strong>alismo do<br />

discurso oficial do Exército e daqueles que o representam, mesmo na informalida<strong>de</strong>.<br />

Parece haver escolhas individuais nesse processo que compreen<strong>de</strong> um jogo a vários<br />

níveis, entre or<strong>de</strong>ns, execuções e <strong>de</strong>sobediências. Parece que nem tudo se <strong>de</strong>finia em termos<br />

<strong>de</strong> coerção e medo <strong>de</strong> punições. Havia fatores subjetivos que influenciavam no processo, tais<br />

como a maneira como eram expedidas as or<strong>de</strong>ns, o alvo das or<strong>de</strong>ns, as capacida<strong>de</strong>s pessoais<br />

dos executantes em cumpri-las, o grau <strong>de</strong> socialização do executante e a sua potencialida<strong>de</strong><br />

em recusá-las. Havia também escolhas dos executantes em cumprir total, parcialmente ou,<br />

ainda, não cumprir integralmente as or<strong>de</strong>ns recebidas.<br />

É dizer o óbvio que os processos que envolviam as or<strong>de</strong>ns e as execuções das tarefas<br />

no ambiente militar pareciam ser influenciados pelas características relacionais humanas<br />

muito mais do que gostaria <strong>de</strong> fazer crer o cartesiano e frio discurso institucional. O<br />

automatismo <strong>de</strong>sse processo seria tão <strong>de</strong>sejável quanto improvável na vida prática. Assim<br />

como qualquer outra ativida<strong>de</strong> relacional humana, as or<strong>de</strong>ns militares obe<strong>de</strong>ciam também a<br />

critérios subjetivos inerentes às relações humanas, não somente a critérios objetivamente

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