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usado como forma <strong>de</strong> convencimento discursivo, tanto no plano externo como no interno.<br />

Mas alguns militares, sargentos e oficiais 308 , que permaneceram no Exército <strong>de</strong>monstraram<br />

que a união do Exército ainda não havia sido totalmente consolidada. A insegurança passou a<br />

ser a tônica das relações, pois não se sabia <strong>de</strong> on<strong>de</strong> o inimigo po<strong>de</strong>ria vir, nem como. Foi<br />

nesse plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfiança e <strong>de</strong> medo que os sargentos passaram a ser socializados.<br />

Nos serviços <strong>de</strong> escala, a atenção era primordial, a fim <strong>de</strong> se evitar surpresas. Já<br />

houvera uma incursão no passado, em 1935, on<strong>de</strong> os quartéis foram invadidos. “E a<br />

Revolução reavivou essa coisa, né! Para <strong>de</strong>spertar, pro militar saber que po<strong>de</strong> ocorrer a<br />

qualquer momento uma coisa” (BARRILES, 2011). A partir do mito do capitão Lamarca 309 ,<br />

firmou-se no imaginário militar, e logicamente no dos sargentos que trabalhavam à noite, <strong>de</strong><br />

guardas, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novas incursões no intuito <strong>de</strong> se roubarem fuzis para armarem a<br />

guerrilha que supostamente se organizava.<br />

Um soldado <strong>de</strong> 1971/72 indica que até mesmo supostos ex-guerrilheiros<br />

arrependidos eram cooptados pelo Exército, a fim <strong>de</strong> explicarem suas táticas aos militares do<br />

batalhão. Segundo Alberto Rodrigues,<br />

199<br />

Ocasionalmente, havia uma espécie <strong>de</strong> instrução diferente: consistia em<br />

<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> guerrilheiros ou terroristas presos e 'arrependidos', que se<br />

dispunham a colaborar com o Exército...O palestrante contava, então,<br />

<strong>de</strong>talhadamente, para silenciosos, atentos e assustados recrutas, os planos que<br />

tinham para invadir quartéis e matar soldados. O prisioneiro palestrante relatava<br />

seus planos para explosões <strong>de</strong> bombas em locais públicos e em se<strong>de</strong>s <strong>de</strong> meios <strong>de</strong><br />

comunicação, bem como os projetos que tinham sido elaborados para explosões <strong>de</strong><br />

pontes, linhas <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> energia elétrica e outros alvos estratégicos. O<br />

terrorista explicava tudo em exposição com roteiro e tempo <strong>de</strong>finidos, sendo que<br />

uma vez um palestrante utilizou um cavalete contendo gran<strong>de</strong>s folhas brancas <strong>de</strong><br />

papel, para <strong>de</strong>senhar croquis, com pincel atômico, como se fosse um professor<br />

dando aula. Esses <strong>de</strong>poimentos e testemunhos representavam a preparação<br />

psicológica oferecida para cada soldado estar atento e saber que o inimigo era real e<br />

não estava brincando. (RODRIGUES, 2001, pp. 91-92)<br />

De acordo com os oficiais que doutrinavam as praças, à época, o Brasil estaria<br />

sofrendo uma guerra <strong>de</strong>clarada pelos seus inimigos, “terríveis e sanguinários” terroristas, os<br />

quais “assaltavam bancos, promoviam sequestros e, sem mais sem menos, matavam inocentes<br />

308 Muitos membros da Guerrilha do Caparaó, <strong>de</strong>pois no Vale do Ribeira, foram sargentos e oficiais, como foram<br />

os casos do sargento Darcy Rodrigues e do capitão Carlos Lamarca.<br />

309 O capitão guerrilheiro Carlos Lamarca fora citado tanto no <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Adão Valter Barriles como no<br />

<strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> Abdon Luz. O ato <strong>de</strong> extrema ousadia do capitão Carlos Lamarca em sair do quartel on<strong>de</strong><br />

servia, em Quitaúna-SP, com uma Kombi repleta <strong>de</strong> fuzis, sem nenhum tipo <strong>de</strong> fiscalização, era usado como<br />

exemplo <strong>de</strong> como era necessária a atenção do sargento comandante da guarda e <strong>de</strong> toda a equipe <strong>de</strong> serviço, a<br />

fim <strong>de</strong> evitar novas incursões.

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