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tornearia, por causa da experiência já adquirida na Re<strong>de</strong> Ferroviária e na metalúrgica on<strong>de</strong><br />

trabalhava.<br />

No final do curso, como numa espécie <strong>de</strong> ritual <strong>de</strong> passagem daqueles soldados, que<br />

estariam aptos a serem cabos, houve um exercício militar no terreno, com acampamento, por<br />

quase uma semana. No penúltimo dia, houve a distribuição <strong>de</strong> munições <strong>de</strong> festim para a<br />

realização <strong>de</strong> uma simulação <strong>de</strong> ataque, emboscada e captura <strong>de</strong> prisioneiros. Terminado o<br />

exercício, fora <strong>de</strong>terminado pelo sargento <strong>de</strong> dia que aqueles recrutas que ainda tinham<br />

munições <strong>de</strong> festim sob sua guarda as usariam na manhã seguinte, para acordarem os <strong>de</strong>mais,<br />

o que no jargão militar é conhecido por “alvorada festiva”. Conforme combinado, na manhã<br />

seguinte, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou-se a sequência <strong>de</strong> tiros por aqueles indicados. Contudo, algo inusitado<br />

veio a estragar a festa daqueles jovens soldados alunos que haviam completado a parte mais<br />

<strong>de</strong>sgastante <strong>de</strong> seu treinamento no curso. Um dos colegas <strong>de</strong> curso, este já soldado com mais<br />

<strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> serviço, já experiente, ainda embriagado pelo sono e também pelo álcool<br />

consumido na madrugada anterior, afastou-se da área das barracas dos soldados, indo<br />

<strong>de</strong>sembocar na barraca do tenente comandante da companhia (Entrevista nº 5).<br />

Não conseguindo i<strong>de</strong>ntificar o atirador – que parece ter saído correndo logo após<br />

<strong>de</strong>scoberto da gafe –, aquele oficial mandou reunir toda a companhia e perguntou quem havia<br />

atirado em sua barraca. Como ninguém acusou a autoria do disparo, astutamente o tenente<br />

vistoriou os fuzis <strong>de</strong> cada um dos soldados. Aqueles cujos canos estavam quentes foram<br />

separados dos <strong>de</strong>mais, contando com o auxílio daqueles colegas soldados que não haviam<br />

atirado e que possuíam um espírito <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> para com os colegas pouco <strong>de</strong>senvolvidos. As<br />

sanções àqueles envolvidos foram duras, sendo <strong>de</strong>sligados do curso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> cabos e<br />

punidos, logo que retornaram ao quartel (Entrevista nº 5).<br />

Esse episódio tragicômico, narrado pelo <strong>de</strong>poente parece um bom indício <strong>de</strong> como o<br />

consumo do álcool era associado à rotina dos acampamentos e dos exercícios fora do<br />

aquartelamento, apesar <strong>de</strong> ser coibido no aquartelamento. Uma aparente contradição que<br />

<strong>de</strong>monstrava como a socialização dos praças se <strong>de</strong>senvolvia, em meio às <strong>de</strong>limitações<br />

distintas <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s, categorizados conforme seus usos e costumes. No<br />

aquartelamento, o <strong>de</strong>ver da representação <strong>de</strong> uma moralida<strong>de</strong> contida e <strong>de</strong> conduta ilibada é<br />

típico do servidor do estado e exemplo ao cidadão comum. No acampamento, cuja rotina era<br />

<strong>de</strong> intensas pressões psicológicas e físicas – em época <strong>de</strong> paz, condição simulada e controlada<br />

mais próxima que se po<strong>de</strong>ria chegar <strong>de</strong> um evento bélico –, havia o <strong>de</strong>ver da superação e da<br />

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