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historicamente modificável e fluido, no caso específico do Exército, os sargentos mantinhamse<br />

numa dúbia condição. Quando em relação com os soldados, podiam ser consi<strong>de</strong>rados<br />

“estabelecidos”, possuindo inúmeras prerrogativas que estes não tinham. Mas quando em<br />

relação aos oficiais, eram “outsi<strong>de</strong>rs”. Os sargentos, quando em relação aos soldados, tendiam<br />

a se comportar da mesma maneira que os oficiais se comportavam com os sargentos. Tendiam<br />

a consi<strong>de</strong>rá-los <strong>de</strong> uma maneira tão pragmática, quanto utilitarista. Sendo os soldados as<br />

ferramentas <strong>de</strong> trabalho dos sargentos, estavam certos, muitas vezes, <strong>de</strong> sua inferiorida<strong>de</strong><br />

humana, vi<strong>de</strong> a naturalida<strong>de</strong> com que o termo “soldadinho” era (e ainda é na vida prática),<br />

utilizado para representar os indivíduos <strong>de</strong>sse grupo. A visão especular <strong>de</strong>ssa relação, ou seja,<br />

as representações dos soldados quanto às suas relações com os sargentos, não fora o foco do<br />

nosso trabalho, apesar <strong>de</strong> ter sido aferida em algumas das entrevistas. Parece ser um bom<br />

objeto <strong>de</strong> análise, para uma pesquisa futura.<br />

Por sua vez, como “outsi<strong>de</strong>rs” <strong>de</strong> uma figuração que tinha como “estabelecidos”<br />

os oficiais, os sargentos possuíam, em relação a estes, um sentimento ambíguo, misto <strong>de</strong> amor<br />

e ódio, <strong>de</strong> rancor e <strong>de</strong> afeto, não difícil <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar nas entrevistas, e, também, <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r suas origens. Historicamente discriminados e reprimidos, pelos oficiais, em seus<br />

fervores <strong>de</strong> equacionar po<strong>de</strong>res, ascen<strong>de</strong>r socialmente e conquistar prestígio, os sargentos ao<br />

mesmo tempo <strong>de</strong>sejavam alçar ao oficialato. Queriam, portanto, o reconhecimento social que<br />

a discrepante inferiorida<strong>de</strong> da condição <strong>de</strong> praça não oferecia. E assim o <strong>de</strong>sejavam <strong>de</strong> acordo<br />

com os critérios <strong>de</strong> aferição socialmente reconhecidos pela Instituição. De fato, toda a<br />

motivação para que essas tensões entre sargentos e oficiais se reproduzissem concentrava-se<br />

no fato <strong>de</strong> que, com funções nem tão distantes, os sargentos <strong>de</strong>sejavam certo grau <strong>de</strong><br />

equiparação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res com os oficiais. Na maioria das vezes em que as tensões entre os dois<br />

grupos se tornaram públicas, a disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se estabeleceu por meio <strong>de</strong> um termo<br />

originário do campo jurídico: “direitos”.<br />

A fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>scomprimir as tensões <strong>de</strong>ssa relação (em momentos nos quais elas<br />

eram insuportáveis), ao invés <strong>de</strong> elevar as cotas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do grupo dos sargentos (lê-se<br />

direitos requeridos) – o que levaria, consequentemente, à perda <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, por parte dos<br />

oficiais –, o topo da pirâmi<strong>de</strong> dos estabelecidos preferiu, na maioria das vezes, dar vazão aos<br />

<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> ascensão dos sargentos, por outros meios, que comprometessem menos as relações<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, entre os dois grupos. Seja por meio da criação <strong>de</strong> uma nova graduação, ou por meio<br />

da flexibilização da ascensão aos postos inferiores do oficialato (a apenas alguns escolhidos, e<br />

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