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lá...Eu fui lá ver como era a coisa lá na ESA, né” (LUZ, 2011).<br />

Pouco tempo <strong>de</strong>pois da criação da ESA, – a mesma época em que Olympio Mourão<br />

Filho confi<strong>de</strong>nciaria em seu diário, posteriormente publicado, sua sauda<strong>de</strong> do “sargentão<br />

ru<strong>de</strong>” (FILHO, 1978, p. 255) formado no corpo <strong>de</strong> tropa – parece ter surgido entre os<br />

sargentos a sensação distintiva <strong>de</strong> que a formação no corpo <strong>de</strong> tropa emprestava bem menos<br />

status do que a formação naquela escola. Enquanto nos cursos feitos nos corpos <strong>de</strong> tropa a<br />

exigência intelectual talvez parecesse ser menor, on<strong>de</strong> o aluno simplesmente “estava lá<br />

frequentando a aula e fazia as provas”, o curso na ESA, por sua vez, “era brabo! Tem que<br />

estudar, viu. Tem muitas... Pelo menos no meu tempo foi assim né... Muito campo também”<br />

(LUZ, 2011)<br />

O orgulho do lugar on<strong>de</strong> fez o curso é indiscreto quando Abdon fala que<br />

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Mais tar<strong>de</strong>, eles começaram, <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong> número, a dar a fazer esse curso na<br />

tropa também, mas eu não. Eu fui pra escola mesmo. Eu fiz lá na ESA. (…) eu<br />

acabei fazendo também, na ESA, o curso <strong>de</strong> Infantaria (LUZ, 2011).<br />

A matrícula na ESA foi automática, sendo a obrigação do curso fruto <strong>de</strong> uma<br />

modificação nos quadros do Exército, tendo sido extinta a Qualificação Militar <strong>de</strong> Burocrata a<br />

qual pertencia. O curso fora realizado como 2º sargento, em 1970, quase 14 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

sua promoção a 3º sargento, com 35 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

Normalmente, o curso da ESA era realizado mediante concurso prévio. Soube que as<br />

provas eram difíceis, pois havia sido fiscal <strong>de</strong> prova nalgumas oportunida<strong>de</strong>s. Segundo ele, “a<br />

ESA, a gente tinha que fazer um vestibularzinho...Tem que ser bom para passar. Ou tinha que<br />

ter conhecimento ou então ia na sorte mesmo” (LUZ, 2011).<br />

Parece que a duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modos <strong>de</strong> permanecer no Exército como sargento<br />

permitia ao grupo uma essência heterogênea, no que tange à sua cultura formal. Não que o<br />

concurso da ESA exigisse um nível <strong>de</strong> conhecimento formal elevado, pois cobrava-se a 8ª<br />

série do ensino fundamental. Contudo, fora uma exigência que nivelava intelectualmente <strong>de</strong><br />

uma forma ou <strong>de</strong> outra aquele grupo inferior do Exército. Além disso, a concorrência tornara<br />

o concurso relativamente difícil para os padrões das classes mais pobres, exigindo dos seus<br />

candidatos um esforço extra <strong>de</strong> estudos para serem aprovados. O concurso e o curso, <strong>de</strong>sse<br />

modo, inseriam aqueles indivíduos no caminho do estudo formal, pondo como foco a<br />

meritocracia.<br />

Muitos se adaptavam ao estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> permanente estudo e, após a realização do

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