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elogiosa – no caso dos que o observam –, ou <strong>de</strong>preciativa (blame gossip) – no caso dos que o<br />

transgri<strong>de</strong>m (ELIAS, 2000, pp. 20-21).<br />

No caso concreto do <strong>de</strong>poente, enquanto o capitão conhecia apenas a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> aluno universitário, o temor da quebra do tabu inexistia, por se tratarem <strong>de</strong> um universo <strong>de</strong><br />

iguais, em uma sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> um curso universitário. De algum modo, mantinham uma<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> comum <strong>de</strong> “estabelecidos” naquele espaço social elitizado da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />

da UFSM. Ao <strong>de</strong>scobrir que naquele grupo, composto por indivíduos cujas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s eram<br />

as <strong>de</strong> alunos, on<strong>de</strong> todos po<strong>de</strong>riam se consi<strong>de</strong>rar “estabelecidos”, <strong>de</strong> uma certa maneira, havia<br />

um indivíduo que, em um outro grupo <strong>de</strong> pertencimento ou, continuando com Norbert Elias,<br />

uma outra “configuração” (ELIAS, 1970, pp. 91-105), era consi<strong>de</strong>rado, especificamente para<br />

ele, um “outsi<strong>de</strong>r”, o indivíduo viu-se diante <strong>de</strong> uma escolha.<br />

Primeiro, permanecer com o mesmo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> no ambiente<br />

universitário, relevando o fato sabido e tentando manter distintas suas percepções sociais e<br />

<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> reconhecimento e distinção, pertencentes àquele ambiente, das percepções e<br />

<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> reconhecimento e prestígio do ambiente social militar. Passou a ter consciência <strong>de</strong><br />

que, em meio a uma das configurações à qual pertencia, havia um indivíduo pertencente a<br />

outra configuração que lhe era comum, sendo, nessa configuração, um “outsi<strong>de</strong>r”. O contato<br />

daquele indivíduo (“estabelecido”) com o <strong>de</strong>poente (“outsi<strong>de</strong>r”), em um ambiente não<br />

profissional e <strong>de</strong> um modo pouco ou quase nada formal, como são as relações <strong>de</strong> coleguismo<br />

universitário, po<strong>de</strong>ria potencialmente pô-lo em condições que ele consi<strong>de</strong>raria vexatórias, em<br />

<strong>de</strong>terminados momentos. Condições as quais po<strong>de</strong>riam, também potencialmente, fazê-lo alvo<br />

<strong>de</strong> fofocas que ferissem sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “estabelecido”, junto aos seus colegas<br />

“estabelecidos”, <strong>de</strong>ntro da configuração militar.<br />

Segundo, logo <strong>de</strong> imediato, ainda que <strong>de</strong> maneira sutil, afastar-se daquele “outsi<strong>de</strong>r”<br />

da socieda<strong>de</strong> militar, mesmo que para isso tivesse que se obrigar a limitar seu contato com<br />

todos os outros indivíduos componentes da figuração universitária. A fim <strong>de</strong> evitar a<br />

“promiscuida<strong>de</strong>” social, e a consequente “blame gossip”, por parte dos seus colegas<br />

“estabelecidos” da figuração militar, o capitão escolhera a segunda opção.<br />

Mas o <strong>de</strong>poente não ficaria muito mais tempo naquela Universida<strong>de</strong>, nem em sua<br />

cida<strong>de</strong> natal. Logo em seguida, em atendimento ao seu pedido, <strong>de</strong>ntre algumas opções feitas,<br />

o <strong>de</strong>poente fora transferido para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boa Vista, Roraima, e viu-se obrigado a transferir<br />

para lá o seu curso (Entrevista nº 5).<br />

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