09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

do que um coronel comandante <strong>de</strong> batalhão, por exemplo. Contudo, alguém no papel <strong>de</strong><br />

coronel vê-se bem mais obrigado a controlar suas pulsões diante da necessida<strong>de</strong> do exemplo<br />

aos seus 300 ou 500 subordinados do seu batalhão, do que um sargento comandante <strong>de</strong> um<br />

grupo <strong>de</strong> 9 homens.<br />

Certamente, a sazonalida<strong>de</strong> com a qual um coronel comandante apresenta-se diante<br />

<strong>de</strong> sua tropa ou <strong>de</strong> parte <strong>de</strong>la o abriga <strong>de</strong>sse compromisso durante uma boa parte do seu dia,<br />

mas a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> suas pulsões permanece em estado latente. Esse relativo<br />

distanciamento <strong>de</strong> seus subordinados é o componente principal daquilo que John Keegan<br />

chamou <strong>de</strong> “imperativo da afinida<strong>de</strong>”, que é aquele que condiciona o comando a ser uma<br />

tarefa solitária sendo, pois, que a força das or<strong>de</strong>ns são <strong>de</strong>rivadas daquela aura <strong>de</strong> mistério com<br />

a qual o comandante se cerca. Para ele, “...o objetivo <strong>de</strong> tal mistificação é o <strong>de</strong> aumentar a<br />

incerteza que <strong>de</strong>ve ser vinculada às consequências por sua <strong>de</strong>sobediência.” 28<br />

Diante das suas praças subordinadas mais próximas, por questões funcionais,<br />

geralmente o or<strong>de</strong>nança ou motorista, vez ou outra, essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controle das pulsões<br />

po<strong>de</strong> apresentar sinais <strong>de</strong> flui<strong>de</strong>z, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do grau <strong>de</strong> confiança e intimida<strong>de</strong> existente<br />

entre o coronel e o soldado.<br />

Muito mais próximos dos centros <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, no nível local, principalmente nas<br />

cida<strong>de</strong>s do interior dos estados, alguém que responda pelo papel <strong>de</strong> coronel <strong>de</strong>ve manter-se,<br />

mesmo durante seus momentos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s, representante daquele papel, po<strong>de</strong>ndo<br />

abandoná-la somente no seio <strong>de</strong> seu lar. O comparecimento a cerimoniais <strong>de</strong>ixa a função que<br />

representa sempre em <strong>de</strong>staque, como membro do Exército. As sociabilida<strong>de</strong>s e o lazer<br />

públicos não po<strong>de</strong>m ser aproveitados em completo relaxamento, sob pena <strong>de</strong> submeter-se a<br />

registros orais, escritos, fotográficos ou fílmicos in<strong>de</strong>sejáveis à sua reputação e letais à<br />

manutenção do <strong>de</strong>sempenho da sua função social. As figurações dos cabos, sargentos e<br />

tenentes, por exemplo, sofrem essas limitações em intensida<strong>de</strong>s bem menores, por conta <strong>de</strong><br />

seus papéis. Um tenente po<strong>de</strong> ser bem mais espontâneo, um sargento ainda mais, e os cabos<br />

ainda muito mais.<br />

As limitações das pulsões dos coronéis são tanto mais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m individual,<br />

ocasionadas também pelo olhar <strong>de</strong> seus subordinados, ciosos pelo exemplo, do que por conta<br />

do olhar disciplinar <strong>de</strong> seus superiores, mas por ele também. Seria irreal minimizar o peso do<br />

olhar <strong>de</strong> seus superiores no controle <strong>de</strong> um coronel, dadas as perspectivas <strong>de</strong> carreira e a sua<br />

33<br />

28<br />

KEEGAN, John. A máscara do comando. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bibliex, 1999. p.358.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!