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“Dali a pouco, os sargentos enten<strong>de</strong>ram e viram, que realmente houve uma mudança muito...”<br />

(LUZ, 2011)<br />

Se os sargentos enten<strong>de</strong>ram seu ponto <strong>de</strong> vista e suas intenções não se sabe bem.<br />

Para Abdon, aqueles colegas<br />

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que naquela ocasião me picharam (…) sabem do trabalho... mas não abrem a boca<br />

por questões <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>: 'não, fulano, isso aqui melhorou muito quando o Abdon<br />

assumiu o Grêmio (LUZ, 2011)<br />

Seriam palavras que gostaria <strong>de</strong> ter ouvido, mas o reconhecimento, por parte dos<br />

colegas parece não ter germinado na época, pois na reeleição do Grêmio não saiu vencedor.<br />

Acha ele que “ainda nutriam sobre mim alguma, algum ressentimento, como puxa-saco, essas<br />

coisas assim, que você conhece <strong>de</strong> caserna, né!” (LUZ, 2011)<br />

Rebelou-se passivamente com o coronel chefe da Seção <strong>de</strong> Finanças do Quartel-<br />

General, não cumprindo suas <strong>de</strong>terminações “furadas” e confeccionando as folhas <strong>de</strong><br />

pagamento ao seu modo. Segundo ele conta, com indisfarçável orgulho, as folhas que eram<br />

feitas, aten<strong>de</strong>ndo as <strong>de</strong>terminações do coronel, sempre voltavam <strong>de</strong> Brasília para correções. O<br />

coronel, então, mandou chamá-lo, pedindo satisfações:<br />

me apelidaram <strong>de</strong> marechal por causa disso, porque eu quis dar uma aula para ele <strong>de</strong><br />

Administração Militar (…) Porque o 'Finanças' nos solta aqui umas instruções que<br />

são furadas, porque a gente sabe que não vai dar certo (…) vinha aquela legislação<br />

enorme, então a gente lia e estudava, né! (LUZ, 2011).<br />

Para enquadrar-se ao sistema, rebelou-se contra ele. Para realizar com correção seu<br />

trabalho diário, viu-se obrigado a <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer or<strong>de</strong>ns expressas por seus chefes diretos. Uma<br />

espécie <strong>de</strong> contradição facilmente encontrada numa socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo autocrático, como é<br />

o Exército. Po<strong>de</strong> ser encarada como rebeldia e afronta, se o caso for analisado com<br />

subjetivida<strong>de</strong>.<br />

Era um tipo <strong>de</strong> rebeldia que visava melhor produtivida<strong>de</strong> e otimização do labor<br />

cotidiano, mas cuja ousadia da transgressão não seria menos punível que a rebeldia antiestablishment<br />

ou a individualista. Abdon, inclusive, receita essa rebeldia digamos “positiva”<br />

em outra oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua entrevista, a fim <strong>de</strong> zelar pela segurança individual dos<br />

militares sob o comando <strong>de</strong> oficiais menos experientes. Segundo ele,<br />

você po<strong>de</strong> também questionar com oficial, com quem quer que for. 'Mas tenente,<br />

assim, assim o que o senhor tá mandando não vai dar certo. O que nós vamos fazer

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