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aqueles outros que são bons e não precisam <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> argumento... <strong>de</strong>ssa<br />

malandragem, vamos dizer assim (Entrevista 5).<br />

275<br />

Em outra passagem, o <strong>de</strong>poente continua no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seu raciocínio:<br />

Tem oficial e tem sargento bom! E esses, eles não se preocupam. Seguindo essa<br />

teoria aí que o cara que é bom ele não tem medo. O oficial que é bom, o sargento<br />

que é bom, ele não se preocupa com que o mais mo<strong>de</strong>rno tá falando. Porque ele sabe<br />

que ele não precisa da antiguida<strong>de</strong> pra <strong>de</strong>monstrar que ele sabe. Ele se impõe pelo<br />

conhecimento. Ele <strong>de</strong>ixa você falar, daqui a pouco ele tira... Ele te <strong>de</strong>sarma. Porque<br />

ele dá um argumento e aí você, ôpa! Aí você passa a respeitar o cara! Ele não<br />

precisa da antiguida<strong>de</strong>! Tem muita gente assim. Eu conheço muita gente assim, tanto<br />

nível sargento, quando nível oficial (Entrevista 5).<br />

Concluindo a i<strong>de</strong>ia, o <strong>de</strong>poente, <strong>de</strong> uma maneira muito lúcida e equilibrada – mas<br />

nem por isso polida – trata comparativamente, em mesmo nível, as personalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

indivíduos pertencentes aos dois grupos: “tinha aquele oficial filho da puta, tinha o sargento<br />

filho da puta. Tinha o sargento gente boa, tinha o oficial gente boa” (Entrevista 5). Explicando<br />

a resultante relacional <strong>de</strong> profissionais socializados através <strong>de</strong> um aparente dualismo, entre<br />

bons e maus, o <strong>de</strong>poente parece querer <strong>de</strong>ixar claro que, apesar das socializações contribuírem<br />

com vernizes homogeneizantes aos grupos, as personalida<strong>de</strong>s diferentes e múltiplas<br />

apropriam-se <strong>de</strong>sses processos <strong>de</strong> maneiras distintas, gerando como resultado, sempre<br />

preliminar e inacabado, socializados com <strong>de</strong>sejos e vonta<strong>de</strong>s distintas. São indivíduos que<br />

atuam com uma certa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um campo gravitacional social irresistível e<br />

circunscrito. Nesse mesmo campo, po<strong>de</strong>m atuar oficiais e sargentos com predicados distintos<br />

e opostos.<br />

Essa é uma perspectiva <strong>de</strong> indivíduo/socieda<strong>de</strong> que não difere muito da que Norbert<br />

Elias empreen<strong>de</strong>, ao enten<strong>de</strong>r que “a pessoa que atua <strong>de</strong>ntro do fluxo, talvez tenha uma<br />

oportunida<strong>de</strong> melhor <strong>de</strong> ver quantas coisas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pessoas particulares em<br />

situações particulares” (ELIAS, 1994, p. 47). A explicação atribuída por Elias para este fato é<br />

a <strong>de</strong> que<br />

Toda socieda<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e complexa tem... as duas qualida<strong>de</strong>s: é muito firme e muito<br />

elástica. Em seu interior, constantemente se abre um espaço para as <strong>de</strong>cisões<br />

individuais. Apresentam-se oportunida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>m ser aproveitadas ou perdidas.<br />

Aparecem encruzilhadas em que as pessoas têm <strong>de</strong> fazer escolhas, e <strong>de</strong> suas<br />

escolhas, conforme sua posição social, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r seu <strong>de</strong>stino pessoal imediato,<br />

ou <strong>de</strong> uma família inteira, ou, ainda, em certas situações, <strong>de</strong> nações inteiras ou <strong>de</strong><br />

grupos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>las. (...) Mas as oportunida<strong>de</strong>s entre as quais a pessoa assim se vê

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