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mais básico, era um luxo que, <strong>de</strong> acordo com o imaginário da oficialida<strong>de</strong> da época, estragava<br />

o soldado.<br />

De acordo com Norman Dixon, durante a Guerra da Crimeia:<br />

45<br />

No seu trato com Florence Nightingale e o seu zeloso ajudante, o chefe londrino<br />

Alexis Soyer, os generais relativamente bem alimentados, <strong>de</strong>nunciavam uma falta <strong>de</strong><br />

compaixão em que dificilmente se acreditaria. O general Eyre, com o seu Exército a<br />

morrer <strong>de</strong> subnutrição, disse, acerca <strong>de</strong> Soyer e <strong>de</strong> seu novo fogão: 'os soldados não<br />

têm necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ranchos tão bons quando estão em campanha. Você melhora a<br />

comida, mas estraga os soldados (DIXON, 1977, p. 51).<br />

Perante a diferença social entre o recrutamento dos oficiais e das praças, tanto no<br />

Brasil como na Europa, e da visão generalizada, das classes média e alta, acerca das classes<br />

pobres – fontes <strong>de</strong> recrutamento das praças – em qualquer parte do mundo oci<strong>de</strong>ntal 38 , o<br />

soldado era realmente feito para gastar (DIXON, 1977, p. 201), tanto na Grã-Bretanha como<br />

no Brasil. Seria anacrônico exigir comportamentos diferentes dos distintos oficiais brasileiros,<br />

fidalgos ou pretensamente fidalgos do século XIX.<br />

Gastavam-se as praças, não somente com excesso <strong>de</strong> trabalho e maus tratos, mas<br />

também com a violência física. Ela era também uma das formas dispostas pelos oficiais para<br />

manter seus soldados na linha. As surras <strong>de</strong> espada em prancha ou posteriormente da vara <strong>de</strong><br />

marmelo; o marche-marche, que consistia em marchar por horas em um pátio; a solitária a<br />

pão e água; a palmatória; o estaqueamento, que consistia em amarrar a praça indócil <strong>de</strong> costas<br />

em 4 estacas cravadas no chão, pelas mãos e pelos pés e <strong>de</strong>ixá-lo esticado sob o sol, eram<br />

práticas muito comuns <strong>de</strong>ntro dos quartéis (CARVALHO, 2005, p. 21; SODRÉ, 1968, pp.<br />

133/134; MCCANN, 2009, pp. 112-113).<br />

As prisões por longos períodos, muitas vezes por causas banais, eram corriqueiras no<br />

universo disciplinar das praças do Exército. O Relatório do Ministério da Guerra, relativo ao<br />

ano <strong>de</strong> 1890, mostrava que o Conselho Supremo Militar e <strong>de</strong> Justiça havia julgado 550<br />

militares do Exército. Destes, 546 eram praças <strong>de</strong> pré e somente 4 eram oficiais. 39<br />

38<br />

39<br />

No século XIX discutia-se se a pobreza seria inerente ao sistema capitalista industrial ou se era <strong>de</strong>vida a<br />

falhas morais dos próprios pobres, mostradas pela preguiça, falta <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> previsão e excesso <strong>de</strong><br />

bebidas. Até mesmo Marx conceituou aquela parte dos pobres, que não pertencia moralmente ao<br />

“proletariado” fecundo e potencialmente revolucionário, como “lumpenproletariat”, uma massa vagabunda<br />

<strong>de</strong> “mendigos, bandidos e bêbados” diluída por um “comportamento irresponsável, lascivo e <strong>de</strong>vasso”<br />

(SCHWARTZMAN, 2004, p. 23;65), ou nas palavras do próprio Marx, um “apodrecimento passivo das<br />

camadas mais baixas da velha socieda<strong>de</strong>” (MARX, 1998, p. 18).<br />

Relatório do Ministro da Guerra Antônio Nicolau Falcão da Frota ao Presi<strong>de</strong>nte da República, referente ao<br />

ano <strong>de</strong> 1890. Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2231/000011.html; Acesso em: 15 Mar 2011

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