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formal que supostamente viam nos grupos superiores, mesmo porque havia a exigência <strong>de</strong>sse<br />

saber para penetrarem nesses grupos e <strong>de</strong>les se tornarem parte. O saber formal, ou melhor, a<br />

ausência <strong>de</strong>le, seria apenas mais uma faceta do que Elias chamara <strong>de</strong> “sintoma <strong>de</strong><br />

inferiorida<strong>de</strong> humana”, o qual, juntamente com outros sintomas, reforçava nos soldados a<br />

versão <strong>de</strong> que eram humanamente inferiores. Para Elias,<br />

223<br />

Os sintomas <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> humana que os estabelecidos costumam i<strong>de</strong>ntificar nos<br />

outsi<strong>de</strong>rs e que são 'provas' do seu status e valor superiores costumam ser gerados<br />

nos próprios membros do grupo inferior por conta das próprias condições <strong>de</strong> sua<br />

posição <strong>de</strong> outsi<strong>de</strong>rs e pela humilhação e opressão concomitantes: a pobreza, o<br />

baixo padrão <strong>de</strong> vida é um <strong>de</strong>les. Mas existem outros, como a “exposição constante<br />

aos caprichos das <strong>de</strong>cisões e or<strong>de</strong>ns dos superiores, a humilhação <strong>de</strong> ser excluído<br />

das fileiras <strong>de</strong>les e as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>ferências instiladas no grupo 'inferior'.” Além<br />

disso, os inferiores se avaliam pela bitola <strong>de</strong> seus superiores quando o diferencial <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r é muito gran<strong>de</strong>, se consi<strong>de</strong>rando realmente <strong>de</strong>ficientes. Da mesma forma que<br />

os estabelecidos veem seu po<strong>de</strong>r superior como um sinal <strong>de</strong> valor humano mais<br />

elevado, os outsi<strong>de</strong>rs, quando o diferencial <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r é muito gran<strong>de</strong> e a submissão é<br />

irresistível, vivenciam afetivamente sua inferiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r como um sinal <strong>de</strong><br />

inferiorida<strong>de</strong> humana (ELIAS, 2000, p. 28).<br />

Oliveira dá o exemplo <strong>de</strong> si mesmo, porquanto ter incorporado ao Exército com a 3ª<br />

série primária. Muitos <strong>de</strong> seus colegas <strong>de</strong> recrutamento eram realmente analfabetos ou,<br />

quando muito, semialfabetizados, e foram obrigados a cursar a chamada “Escolinha<br />

Regimental”, que havia na ESA (OLIVEIRA, 2011). Na maioria dos quartéis ainda<br />

funcionavam essas escolinhas, com professoras e professores civis, <strong>de</strong>stinados às primeiras<br />

letras aos recrutas. Fazia parte do papel civilizador que a Instituição arrogava-se a si, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

sua fase positivista, no final do século XIX.<br />

O quartel on<strong>de</strong> servia Oliveira era sui-generis, pelo fato <strong>de</strong> ser um lugar on<strong>de</strong> a<br />

socialização dos soldados correspondia a apenas uma ativida<strong>de</strong> acessória da unida<strong>de</strong>. A<br />

ativida<strong>de</strong> principal seria a <strong>de</strong> encaminhar, em seus primeiros passos, a socialização dos<br />

futuros sargentos <strong>de</strong> carreira das armas combatentes do Exército.<br />

Havia, <strong>de</strong>ntro da sua unida<strong>de</strong>, certamente, uma variação no trato dos soldados e dos<br />

alunos do Curso <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Sargentos (CFS). Mas parece que a suposta diferença que<br />

havia entre as duas posições funcionais não fora suficiente para separar Oliveira do convívio<br />

com os alunos. Talvez o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> estudar e <strong>de</strong> ser um daqueles alunos tenha aproximado<br />

Oliveira <strong>de</strong>les, que tinham muito a oferecer em termos <strong>de</strong> ajuda intelectual.<br />

Oliveira terminou seu ensino fundamental em dois anos, num dos cursos supletivos<br />

<strong>de</strong> Três Corações, informalmente nomeado <strong>de</strong> maneira cômica <strong>de</strong> “Uma Dureza”

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