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Mas não são em todas as unida<strong>de</strong>s do Exército que existem cozinhas separadas e,<br />

para uma boa parte <strong>de</strong>las, há somente uma cozinha que fornece a alimentação para os três<br />

refeitórios. Nesses lugares, o <strong>de</strong>poente acredita que haveria “uma leve tendência <strong>de</strong>ssas<br />

diferenças serem minimizadas, e a comida ser <strong>de</strong> um padrão mais próximo” (Entrevista nº 6).<br />

Contudo, mesmo sem achar “natural” nem “justo” esse or<strong>de</strong>namento distintivo, hierarquizado<br />

da gastronomia militar, ele reforça, <strong>de</strong> maneira cética, que não haveria uma tendência em se<br />

igualar os cardápios dos três grupos. Para ele, essa distinção pelo prato ten<strong>de</strong>ria a ser<br />

permanente: “nem que seja uma diferença muito pequena vai ter” (Entrevista nº 6).<br />

Mas nem tudo seriam distinções e distanciamentos entre os “estabelecidos” e<br />

“outsi<strong>de</strong>rs” no Exército, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua incorporação até agora. Além do coronel, citado parágrafos<br />

antes – consi<strong>de</strong>rado muito seguro <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r funcional, a ponto <strong>de</strong> não temer a aproximação<br />

com seus subordinados e <strong>de</strong> manter com eles uma atitu<strong>de</strong> respeitosa e afetuosa –, nos anos <strong>de</strong><br />

1995 e 1996, o <strong>de</strong>poente fora subordinado <strong>de</strong> um capitão, comandante <strong>de</strong> subunida<strong>de</strong>, que,<br />

talvez, tivesse ido além da segurança <strong>de</strong> sua posição, para a<strong>de</strong>ntrar num território que, à<br />

época, o <strong>de</strong>poente classificara <strong>de</strong> “arriscado” (Entrevista nº 6).<br />

Esse capitão, para o <strong>de</strong>poente, “tratava com muita <strong>de</strong>mocracia” os seus subordinados.<br />

Ao invés <strong>de</strong> exigir da tropa, nas formaturas da subunida<strong>de</strong>, a permanência da posição <strong>de</strong> pé,<br />

imóvel, como todos os outros faziam, ele passava suas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> uma maneira <strong>de</strong>scontraída e<br />

informal, com toda a tropa sentada em bancos. Aliás, uma das formaturas consi<strong>de</strong>radas mais<br />

importantes numa subunida<strong>de</strong>, a formatura <strong>de</strong> término do expediente, foi suprimida por ele. O<br />

<strong>de</strong>poente achava arriscada essa ação, pois a importância dada a essa formatura estava em<br />

justamente comunicar verbal e formalmente, por meio do ritual chamado “leitura do boletim”,<br />

os eventos do dia seguinte aos cabos e soldados. Por causa da ausência a essas formaturas, as<br />

suas faltas aos eventos po<strong>de</strong>riam ser, talvez, justificadas alegando <strong>de</strong>sconhecimento<br />

(Entrevista nº 6).<br />

Interessante o <strong>de</strong>poente mencionar somente os cabos e soldados, já que a formatura<br />

para a leitura do boletim, ou do seu aditamento à subunida<strong>de</strong>, era obrigatória para todos os<br />

integrantes das companhias. Numa época em que os soldados, e até mesmo muitos sargentos,<br />

não sabiam ler, essas formaturas faziam sentido. Mas, com todos alfabetizados, apenas o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> comando por sobre sua tropa, resultante <strong>de</strong> um somatório das lógicas<br />

paternalista, centralizadora e autoritária, po<strong>de</strong>ria explicar a continuação <strong>de</strong>sse hábito. E esse<br />

capitão, afastado <strong>de</strong>ssas lógicas dominantes, havia conseguido convencer sua companhia que<br />

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