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supremacia dos aspectos econômicos é fundamental. Nesse sentido,<br />

235<br />

Quando os grupos outsi<strong>de</strong>rs têm que viver no nível <strong>de</strong> subsistência, o montante <strong>de</strong><br />

suas receitas prepon<strong>de</strong>ram sobre todas as suas outras necessida<strong>de</strong>s. Quanto mais eles<br />

se <strong>de</strong>slocam acima do nível <strong>de</strong> subsistência, mais a sua própria renda – seus recursos<br />

econômicos – serve <strong>de</strong> meio para aten<strong>de</strong>r a outras aspirações humanas que não a<br />

satisfação das necessida<strong>de</strong>s animais ou materiais mais elementares, e mais<br />

agudamente os grupos nessa situação ten<strong>de</strong>m a sentir a inferiorida<strong>de</strong> social – a<br />

inferiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> status <strong>de</strong> que sofrem. É nessa situação que a luta entre os<br />

estabelecidos e os outsi<strong>de</strong>rs <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser, por parte <strong>de</strong>stes últimos, uma simples luta<br />

para aplacar a fome, para obter os meios <strong>de</strong> subsistência física, e se transforma numa<br />

luta para satisfazer também outras aspirações humanas (ELIAS, 2000, p. 33).<br />

Mas parece que não eram apenas os oficiais que se incomodavam com algum tipo <strong>de</strong><br />

ascensão social dos sargentos, no nível individual. Oliveira reforça que o mero ultrapassar da<br />

sobrevivência digna, mais ou menos padronizada pelo grupo, <strong>de</strong> acordo com seus<br />

vencimentos, fazia com que o sujeito fosse vítima <strong>de</strong> manifestações <strong>de</strong> inveja dos seus<br />

próprios colegas sargentos. Ele narra que quando servia no Colégio Militar <strong>de</strong> Curitiba, havia<br />

conhecido um sargento que, em suas horas <strong>de</strong> folga do quartel, trabalhava como taxista. Os<br />

próprios sargentos o observavam e comentavam entre si. Segundo Oliveira,<br />

nêgo ficava <strong>de</strong> olho nele. Nossa! O Guido <strong>de</strong> carro zero! (...) até um dia falei: ‘Pô, só<br />

trabalhar igual ele que você vai ter carro zero também. Vocês não trabalham, quer<br />

ter’ (OLIVEIRA, 2011)<br />

Apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos verificar alguns indícios <strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas informações<br />

relativas a esses fatos relatados por Oliveira, é interessante salientar que a prova empírica <strong>de</strong><br />

todos esses fatos não é o nosso objetivo neste trabalho. Reitero que o que pretendo nessa <strong>tese</strong><br />

é tentar absorver, a partir dos fatos narrados pelos <strong>de</strong>poentes, como os sargentos do Exército<br />

compreendiam, e compreen<strong>de</strong>m ainda nos dias atuais, o universo composto pelo seu grupo<br />

social, como a ele se conformavam ou se, ainda, tentavam modificá-lo <strong>de</strong> alguma maneira.<br />

O que Oliveira nos ensina, com os casos narrados acerca dos sargentos Valmor 340 ,<br />

Sansão e Guido são sintomas <strong>de</strong> um forte comportamento coletivista <strong>de</strong>ntro do qual todos os<br />

militares são socializados. Isso não é novida<strong>de</strong> num ambiente militar. O que Oliveira nos traz<br />

<strong>de</strong> novo é que esse coletivismo seria tão exacerbado na socialização militar do Exército<br />

340 O ex-sargento Valmor Weiss, expulso do Exército em 1964 e <strong>de</strong>pois empresário <strong>de</strong> prestígio em Curitiba, já<br />

fora citado pelo <strong>de</strong>poente Abdon Luz.

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