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na expectativa <strong>de</strong> melhorar suas condições sociais.<br />

Tornado recruta, os seus primeiros dias foram passados todos <strong>de</strong>ntro do quartel,<br />

quase que completamente apartados do restante da socieda<strong>de</strong>, no que ele chamou <strong>de</strong><br />

“quarentena rigorosa” 296 . Nesse período <strong>de</strong> internato, fez a prova para o Curso <strong>de</strong> Formação<br />

<strong>de</strong> Cabos (CFC), tendo a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter sido aprovado. Terminada a quarentena, iniciou o<br />

CFC, interrompido menos <strong>de</strong> um mês <strong>de</strong>pois, quando “estourou” o 31 <strong>de</strong> março. Foi obrigado<br />

a voltar para seu Esquadrão <strong>de</strong> origem para trabalhar. Mesmo sem ter terminado o curso,<br />

Barriles assumiu uma função <strong>de</strong> comandante <strong>de</strong> seção, específica <strong>de</strong> 3º sargento. Segundo ele,<br />

os efetivos eram muito reduzidos, tanto os <strong>de</strong> sargentos como os <strong>de</strong> oficiais. Eram raros os<br />

pelotões comandados por tenentes, tendo “no máximo, um 3º sargento ou um 2º sargento”<br />

(BARRILES, 2011). Os <strong>de</strong>mais eram cabos. O comandante <strong>de</strong> seu pelotão era um 3º sargento.<br />

Depois do 31 <strong>de</strong> março permaneceu por dois meses <strong>de</strong> prontidão. Tanto tempo sem ir<br />

em casa, a mãe preocupou-se e pediu que a irmã fosse até ao quartel informar-se o que se<br />

passava. Nesses sessenta dias seus expedientes foram passados “<strong>de</strong>ntro do seu pelotão e<br />

sempre <strong>de</strong>ntro da sua função” (BARRILES, 2011). Fez manobras no pelotão e apren<strong>de</strong>u a<br />

comandar nessa prática diária <strong>de</strong> treinamentos. À noite, dormia com o armamento municiado,<br />

pronto para entrar em ação, caso preciso. Algumas vezes, todos eram acordados “uma hora,<br />

duas horas da madrugada, embarcava nas viatura... Amanhecia fora, tinha incursão fora da<br />

cida<strong>de</strong>. E retornava no outro dia nove, <strong>de</strong>z, meio-dia” (BARRILES, 2011).<br />

Barriles, recentemente incorporado, já tinha permanecido no quartel tempo <strong>de</strong>mais.<br />

Quarenta dias ininterruptos. Depois <strong>de</strong> algum tempo, mais sessenta dias. O a<strong>de</strong>nsamento<br />

proposital do processo inicial <strong>de</strong> socialização, com a quarentena, prolongou-se ainda mais<br />

com o fato <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> permanecer por mais sessenta dias integralmente à disposição do<br />

Exército, por causas políticas.<br />

Goffman analisa essa ruptura com o mundo exterior como uma ação que tem a<br />

finalida<strong>de</strong> precípua <strong>de</strong> fazer com que o internado perca seus papéis e suas referências externas<br />

e passe a adotar, com exclusivida<strong>de</strong>, as referências da instituição, aceitando os papéis<br />

i<strong>de</strong>ntitários impostos por ela. Tudo isso, fazendo parte <strong>de</strong> um amplo processo que ele chamou<br />

<strong>de</strong> “mortificação do eu”, que inclui <strong>de</strong>s<strong>de</strong> testes <strong>de</strong> obediência, palavras, gestos e funções que<br />

são consi<strong>de</strong>radas normalmente humilhantes, até a mutilação <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, pela perda do<br />

nome e a aquisição <strong>de</strong> um nome <strong>de</strong> guerra e um número (GOFFMAN, 1974, pp. 23-30). O<br />

187<br />

296 BARRILES, Adão Valter. Entrevista concedida ao autor, em Curitiba, em 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2011.

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