09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Perante o curso <strong>de</strong> sargentos, na Escola <strong>de</strong> Comunicações, possivelmente a vida <strong>de</strong> soldado<br />

recruta não <strong>de</strong>ixasse muito a <strong>de</strong>sejar.<br />

Ao chegar à sua cida<strong>de</strong> natal, como 3º sargento, procurou terminar seus estudos,<br />

continuando o Ensino Médio num curso supletivo. Em apenas 1 ano, concluiu os 2 que lhe<br />

faltavam. Concluído o Ensino Médio, começou a se preparar para o vestibular do curso <strong>de</strong><br />

Direito, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria. Tendo ingressado no universo dos estudos<br />

para concursos com a preparação para o CFS, o <strong>de</strong>poente parece ter tentado dar continuida<strong>de</strong><br />

ao seu movimento <strong>de</strong> ascensão social pelo estudo. “Minha i<strong>de</strong>ia era terminar a faculda<strong>de</strong>,<br />

fazer um concurso e ir embora” (Entrevista 5).<br />

Parece, porém, não ter sido somente o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ascensão social o motor primeiro <strong>de</strong><br />

sua intenção <strong>de</strong> sair do Exército, ainda bem jovem. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ascensão, através do mérito<br />

intelectual, coadunou-se a um certo nível <strong>de</strong> frustração profissional, e mesmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cepção,<br />

que parece ter se <strong>de</strong>senvolvido logo na fase inicial <strong>de</strong> sua carreira como sargento. Em tom <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sabafo, o <strong>de</strong>poente narra:<br />

271<br />

Eu estu<strong>de</strong>i pra sair! Eu passei daquela fase ali da rebeldia, ali, né. De querer embora,<br />

<strong>de</strong> não aguentar botar farda. Por uma série <strong>de</strong> coisas, salário baixo, <strong>de</strong> falta <strong>de</strong><br />

incentivo profissional, <strong>de</strong> ver camaradas incompetentes que são superiores<br />

hierárquicos. Tem muito aquela coisa da Divisa ou da Estrela, né. O cara é mais<br />

antigo, mas tu vê, perdão da palavra, o cara é um bosta, né. E ele é o cara que<br />

comanda, né. Eu tive várias pessoas assim, né. O cara não sabia nada! É o mais<br />

antigo! Des<strong>de</strong> a época <strong>de</strong> 3º até hoje eu vejo isso, né. O cara que não sabe nada e<br />

manipula! O cara político. Faz o cartaz <strong>de</strong>le, né (Entrevista 5).<br />

Se, enquanto soldado, o <strong>de</strong>poente havia aprendido que os soldados não podiam<br />

contar como aliados nem com os sargentos nem com os oficiais, quando sargento, percebera<br />

que os sargentos, além <strong>de</strong> não terem como aliados os oficiais, sequer tinham os próprios<br />

sargentos, <strong>de</strong> um modo geral. Nesse sentido, a or<strong>de</strong>m hierárquica – mesmo a que<br />

correspon<strong>de</strong>ria a uma hierarquia relativamente horizontal, que é aquela do mesmo grupo<br />

social, no caso, a dos sargentos –, é percebida pelo <strong>de</strong>poente como uma ferramenta <strong>de</strong><br />

manipulação <strong>de</strong>sleal <strong>de</strong> indivíduos subordinados por indivíduos hierarquicamente superiores,<br />

ainda que pertencentes a um mesmo subgrupo. Percebera ele que a estrutura hierárquica<br />

dividia os sargentos entre si, quase tanto quanto os dividia dos oficiais e dos soldados.<br />

Essa divisão hierárquica entre os sargentos e os distanciamentos subjetivos,<br />

construídos a partir das suas bases objetivas, davam amplitu<strong>de</strong> suficiente ao exercício <strong>de</strong><br />

vonta<strong>de</strong>s pessoais entre dois extremos morais. Nos casos narrados, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da posição

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!