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general. I<strong>de</strong>almente, o peso moral <strong>de</strong>ssa condição é muitíssimo forte; porém, o soldado<br />

também possui uma relativa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manobra <strong>de</strong>ntro do sistema que lhe permite<br />

expressar sua individualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> várias maneiras. Os hiatos e as brechas do sistema <strong>de</strong><br />

controle po<strong>de</strong>m potencializar ainda mais esse relativo grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> nas funções <strong>de</strong><br />

soldado. O surgimento <strong>de</strong>sses micropo<strong>de</strong>res paralelos não seria exclusivida<strong>de</strong> da organização<br />

burocrática militar, pois Ferrari, a partir dos argumentos <strong>de</strong> Michel Crozier, sobre a<br />

administração burocrática, conclui que<br />

30<br />

nas organizações mais burocráticas é possível encontrar-se com maior frequência o<br />

caso <strong>de</strong> funcionários <strong>de</strong> escalões inferiores que ocupando uma posição estratégica,<br />

<strong>de</strong>sempenham um papel <strong>de</strong>cisivo na solução <strong>de</strong> assuntos importantes. Isto acarretalhes<br />

privilégios exorbitantes on<strong>de</strong> a regra seria a igualda<strong>de</strong>. Essas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

paralelas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver-se <strong>de</strong>ntro da hierarquia normal, mas o mais provável é<br />

que se <strong>de</strong>senvolvam fora <strong>de</strong>la (FERRARI, 2006, p. 120)<br />

Essa relativização do or<strong>de</strong>namento hierárquico teria, no caso concreto da organização<br />

militar do Exército, como um exemplo marcante, o exercício das funções <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nanças ou<br />

motoristas <strong>de</strong> comandantes, os quais, sendo, normalmente, membros <strong>de</strong> grupos mais baixos<br />

na hierarquia militar (soldados, cabos ou sargentos), no caso prático, guardadas as <strong>de</strong>vidas<br />

proporções, <strong>de</strong>vem obediência a um militar somente.<br />

Outro exemplo <strong>de</strong> relativização é aquele relacionado à personalida<strong>de</strong> do seu oficial<br />

comandante, pois o grau <strong>de</strong> autonomia <strong>de</strong> um soldado comandado por um tenente <strong>de</strong> espírito<br />

centralizador e tirano será bem menor do que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> um soldado comandado por um<br />

tenente com um espírito um pouco mais <strong>de</strong>mocrático. Fora isso, há outros fatores que<br />

equalizam a insuportável carga <strong>de</strong> vigilância e sanção como a ausência física <strong>de</strong> um superior,<br />

a dupla subordinação, as relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com seus comandantes, a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amigos<br />

que acobertam transgressões não diretamente percebidas por um superior seu, mas que<br />

<strong>de</strong>ixaram vestígios. 24<br />

Na socialização dos soldados recrutas e no script <strong>de</strong> seu papel funcional, não há o<br />

olhar vigilante e disciplinador vindo <strong>de</strong> baixo para cima, sob a forma da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar<br />

exemplo aos subordinados. Por isso seus momentos <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser vividos sem<br />

24<br />

Lembro que, durante o processo <strong>de</strong> socialização militar, há uma moral construída pelo próprio grupo <strong>de</strong><br />

iguais, que po<strong>de</strong> escapar completamente ao controle dos seus superiores. O grau <strong>de</strong> união e coesão do grupo<br />

consi<strong>de</strong>rado, um dos componentes <strong>de</strong>ssa moral, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos componentes da figuração e po<strong>de</strong> tanto ajudar<br />

como atrapalhar os membros do grupo <strong>de</strong> controle, na tarefa <strong>de</strong> discipliná-los, mas sempre será visto como<br />

uma qualida<strong>de</strong> positiva numa figuração militar.

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