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mais ou menos disciplinada agressivida<strong>de</strong>. Momento moralmente menos rígido, on<strong>de</strong> o<br />

controle individual sobre a sua agressivida<strong>de</strong> per<strong>de</strong> valor em <strong>de</strong>trimento das pulsões<br />

exageradamente viris <strong>de</strong> sobrevivência num ambiente hostil. Momento em que o consumo <strong>de</strong><br />

álcool <strong>de</strong>stilado, simbolismo importante das sociabilida<strong>de</strong>s tipicamente masculinas, po<strong>de</strong> vir a<br />

ser liberado, como parte simbólica <strong>de</strong>ssas manifestações <strong>de</strong> virilida<strong>de</strong> individual. O consumo<br />

<strong>de</strong>sse <strong>de</strong>stilado opera como um reforço social da virilida<strong>de</strong>, quase como uma prova <strong>de</strong> que o<br />

grupo é composto realmente <strong>de</strong> homens, não <strong>de</strong> crianças, nem <strong>de</strong> afeminados.<br />

Havia uma legitimação orgânica para o consumo do álcool, já que ele supostamente<br />

tinha a função <strong>de</strong> aquecer os corpos dos soldados, normalmente submetidos ao frio intenso e<br />

encharcados por longos períodos. Principalmente nas regiões <strong>de</strong> clima frio, a cachaça era<br />

distribuída aos soldados juntamente com o almoço.<br />

264<br />

No campo era normal, né. A galera levava conhaque, cachaça, né. O próprio<br />

subtenente pagava, na hora da refeição, uma cachaça pro cara tomar, não é (...) Os<br />

oficiais, todo mundo! Era meio que padrão. Subtenente levava como um material <strong>de</strong><br />

acampamento. Ele levava o arroz, o feijão, tal , e a cachaça. Tinha que ter cachaça.<br />

(Entrevista 5).<br />

Para alguns, o alcoolismo crônico acabava sendo a funesta consequência <strong>de</strong>sse<br />

acesso fácil e incentivado, até mesmo no ambiente profissional. Segundo o próprio <strong>de</strong>poente:<br />

Os cabos estabilizados, jurunas, tudo cachaceiro! Teve um ou dois lá que morreram<br />

<strong>de</strong> cirrose. Tinha o Homero que era um sargento QE. O Homero tinha perdido um<br />

<strong>de</strong>do já numa máquina, por causa da pinga. Eu me lembro que ele tinha um<br />

vidrinho, né. Um vidrinho não, uma garrafinha daquelas da Coca-Cola, aquela<br />

Coca-Cola pequenininha, retornável, no armário. Então ele ia lá e pum! Dava um<br />

gole e trabalhava. (Entrevista 5).<br />

Ele arremata que, nesse ambiente <strong>de</strong> irresistível força do coletivismo, “quem não<br />

tomava cachaça, tava errado” (Entrevista 5).<br />

Ao mesmo tempo, contudo – conforme dito linhas antes – havia uma posição<br />

contraditória da oficialida<strong>de</strong> em relação ao consumo do álcool pelos praças. Como dito, o<br />

consumo <strong>de</strong> álcool, no quartel, parecia ser consi<strong>de</strong>rado moral e disciplinarmente pernicioso. O<br />

caminho encontrado pelos oficiais, para solucionarem problemas relacionados ao uso abusivo<br />

do álcool, pelos seus praças, normalmente possuía um farol moralizante. Os objetivos e os<br />

métodos eram os disciplinares. Foi o caso <strong>de</strong> um cabo corneteiro que o <strong>de</strong>poente presenciou<br />

sendo preso por or<strong>de</strong>m do coronel comandante, por ter errado um toque <strong>de</strong> corneta, <strong>de</strong>vido à

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