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sorte”. 112 Essa amiza<strong>de</strong> podia conter um preço a se pagar, por ambos os lados. O preço do<br />

um sargento, podia tornar sua estada no quartel bem mais agradável do que podia ser para<br />

outros <strong>de</strong> seus colegas sem a mesma sorte. Oficializando e naturalizando o personalismo, o<br />

paternalismo e o patrimonialismo 111 nas relações hierárquicas do Exército, o manual <strong>de</strong> chefia<br />

<strong>de</strong> 1953, editado pelo EME, ressaltava que “na vida militar aqueles que seguem o Chefe estão<br />

na sua <strong>de</strong>pendência direta e pouco po<strong>de</strong>m fazer, sem o seu auxílio, para melhorar a própria<br />

77<br />

sargento seria a submissão e a incondicional disponibilida<strong>de</strong> às vonta<strong>de</strong>s do oficial. O preço<br />

do oficial podia ser também alto, pois <strong>de</strong>terminadas interferências e favores concedidos aos<br />

seus apadrinhados po<strong>de</strong>riam conter cláusulas eivadas <strong>de</strong> ilicitu<strong>de</strong>s, que, se <strong>de</strong>scobertas, seriam<br />

capazes <strong>de</strong> prejudicar a carreira dos padrinhos.<br />

Assim aconteceu no caso <strong>de</strong> um sargento da Escola das Armas.<br />

No processo <strong>de</strong> transferência para a reserva do 1º sargento Sílvio Casemiro da Silva,<br />

do contingente da Escola das Armas, foi verificado ser irregular a sua permanência<br />

nas fileiras do Exército ativo, … [logo] foram repreendidos em BE os Cap José <strong>de</strong><br />

Lima Prado, Durval Campelo Macedo, Sílvio Alves Catão e Álvaro Tasso <strong>de</strong> Sá e<br />

Souza, 1º Ten Henrique Ramos <strong>de</strong> Moura e 2º Ten convocado Waldomiro Pessoa<br />

Barbosa, responsáveis pelo fato <strong>de</strong>clarado irregular. 113<br />

O sargento Casemiro parece não ter sido excluído peremptoriamente porque a sua<br />

condição <strong>de</strong> permanência irregular nas fileiras foi <strong>de</strong>scoberta apenas a partir da abertura do<br />

seu processo <strong>de</strong> transferência para a Reserva Remunerada. Mas diferente do caso anterior,<br />

foram punidos quatro capitães e dois tenentes, responsabilizados pelas “irregularida<strong>de</strong>s”<br />

contidas na permanência do sargento. Não temos condições <strong>de</strong> saber quais foram essas<br />

soldado convidar algum oficial seu comandante para padrinho <strong>de</strong> casamento, padrinho <strong>de</strong> batismo <strong>de</strong> seus<br />

filhos (VEIGA, 1989).<br />

111 Muito comum no meio militar, ainda hoje, é a utilização do pronome possessivo ao fazer-se referência às<br />

figurações às quais pertence ou às pessoas que compartilham as mesmas realida<strong>de</strong>s, mas em escalões<br />

diferentes. São exemplos <strong>de</strong>ssas referências <strong>de</strong> posse o “meus homens” ou “meus soldados”, “meu tenente”,<br />

“meu batalhão” ou “meu pelotão”, “nosso regimento”, “nosso major” (PALHARES, 1957, p. 91; 159). Esse<br />

<strong>de</strong>sejo incutido <strong>de</strong> pertencimento e possessão é fruto da construção <strong>de</strong> um espírito <strong>de</strong> corpo necessário à vida<br />

em grupo, em treinamento para o combate. Mas trazia consequências práticas <strong>de</strong>sagradáveis para a vida dos<br />

“possuídos” que extrapolavam a sua mera funcionalida<strong>de</strong>. Nos anos <strong>de</strong> 1950, o recém-promovido a 3º<br />

sargento do Exército Jelcy Rodrigues Correia, um dos principais protagonistas da militância política dos<br />

sargentos na década posterior, sentia essa condição <strong>de</strong> domínio e proprieda<strong>de</strong> que os oficiais tinham para com<br />

os seus subalternos: “uma das coisas que eu não entendia muito é: eu sou sargento, mas sou sargento do<br />

Exército, não do capitão nem do coronel, e eles não entendiam muito isso”. Entrevista concedida a Stepan<br />

Freitas dos Santos (SANTOS, 2010, p. 123).<br />

112 Estado Maior do Exército. Manual <strong>de</strong> Campanha C 20-10, “Princípios <strong>de</strong> chefia”, 1953, p. 10.<br />

113 Boletim do Exército nº 20, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1940, p. 1257.

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