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E arremata:<br />

169<br />

teve sindicância, até inclusive eu tive preso. Eu...o Valmor e o Teixeira tivemos<br />

preso lá no Boqueirão, durante 4 dias nós tivemos presos. Porque não sei quem disse<br />

lá que nós estávamos li<strong>de</strong>rando e...íamos formar uma tropa (…) para combater os<br />

militares, aquela coisa toda (…). Falávamos que nós éramos comunista <strong>de</strong>ntro do<br />

quartel. Mas foi aquilo que eu te falei: a turma era tão baixa intelectualmente que,<br />

quando se tinha um pouco <strong>de</strong> cultura, um pouquinho, que sobressaíam, era alvo <strong>de</strong>,<br />

era objeto <strong>de</strong> olho gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo mundo. De crítica inclusive, né (LUZ, 2011)<br />

Mas pelo que conta Abdon,<br />

nunca teve i<strong>de</strong>ia nenhuma (…) Nós queríamos era que as coisas funcionassem tudo<br />

direitinho, sem aquela vagabundagem a qual nós éramos contra (…) esses caras que<br />

roubavam, arrebentavam loja, espoliavam, faziam algazarra na rua (…). Tudo coisa<br />

<strong>de</strong> jovens, né (…) O que a gente queria lá era justamente o que toda Revolução fez,<br />

manter a or<strong>de</strong>m nesse país (…) Nós criticávamos essa vagabundagem do Rio...<br />

criticavam até os militares, às vezes, por não tomarem uma atitu<strong>de</strong> (LUZ, 2011)<br />

Paradoxalmente, em <strong>de</strong>terminados momentos <strong>de</strong> sua entrevista, Abdon se coloca<br />

numa posição <strong>de</strong> nós ao se referir aos consi<strong>de</strong>rados subversivos, do Grupo dos Onze. Ao falar<br />

<strong>de</strong> um capitão que fora expulso acusado <strong>de</strong> subversão, Abdon comenta que este oficial havia<br />

dito<br />

pro nosso pessoal que a hora que a gente precisasse <strong>de</strong> um apoio né, <strong>de</strong> fugir <strong>de</strong><br />

algum cerco, alguma coisa (…) ele nos dava o apoio. Foi esse o mal <strong>de</strong>le que era<br />

apoiar os sargentos guerrilheiros ali <strong>de</strong> um quartel <strong>de</strong> Intendência, nem <strong>de</strong> Infantaria<br />

não era (LUZ, 2011).<br />

Em outro momento, ele diz: “o chefe da nossa organização, que eu nem sei quem era,<br />

porque não tinha organização assim, porque era um por um, né” (LUZ, 2011)<br />

Essa sua posição ambígua entre querer o que a Revolução queria, aliado ao fato <strong>de</strong><br />

que “quando veio a Revolução, quando o troço estourou mesmo, nós ficamos felizes da vida”<br />

(LUZ, 2011), e entre assumir, em alguns momentos, uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> subversiva que lhe havia<br />

sido imputada na prisão, é apenas aparente e parece possuir uma ligação íntima com o<br />

processo que sofreu, cuja acusação havia sido provocada sem haver nenhuma prova concreta,<br />

baseando-se apenas em fofocas. Fofocas feitas em relação ao que se pensava, ao que se<br />

falava, não somente sobre política, mas também a respeito das suas condições sociais <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> quartel, como sargento. Ao sugerir a reconstituição <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>poimentos da época, é<br />

clara a posição <strong>de</strong> Abdon, sargento perseguido e per<strong>de</strong>dor, e a do coronel vitorioso com o<br />

golpe. Como se o 31 <strong>de</strong> março fosse ação <strong>de</strong> oficiais em favor da Pátria e Abdon como um

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