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CAPÍTULO IV<br />

260<br />

CAPÍTULO IV – VOZES AINDA (IN)CONTIDAS: OS SARGENTOS,<br />

SUAS REPRESENTAÇÕES E A SOCIALIZAÇÃO MILITAR ENTRE AS DÉCADAS<br />

DE 1990 E 2000.<br />

1991.<br />

1. O OPERÁRIO-BACHAREL: ENTREVISTADO Nº 5, 353 SARGENTO DE<br />

a. Êxodo rural e infância pobre: o jovem operário<br />

Nascido em 1970 no interior do estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, o entrevistado possui<br />

uma histórico social muito semelhante ao histórico dos outros <strong>de</strong>poentes, todos eles <strong>de</strong> origem<br />

bastante humil<strong>de</strong>. Morando na zona rural, seu pai era pequeno agricultor e sua mãe,<br />

semialfabetizada, fora dona <strong>de</strong> casa. Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> nascido o <strong>de</strong>poente, a família <strong>de</strong> quatro<br />

filhos mudou-se para a cida<strong>de</strong>, numa perspectiva <strong>de</strong> melhores oportunida<strong>de</strong>s. Pouco tempo<br />

<strong>de</strong>pois, porém, já adoentado, seu pai <strong>de</strong>ixou viúva sua mãe e órfãos os quatro filhos. O<br />

<strong>de</strong>poente contava, nessa época, com dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />

É necessário um a<strong>de</strong>ndo, no sentido <strong>de</strong> indicar que esse exórdio das origens do<br />

<strong>de</strong>poente não po<strong>de</strong> ser tomado como uma lembrança direta do vivido, mas sim como uma<br />

reminiscência emprestada do ouvir contar, por parte <strong>de</strong> seus familiares mais chegados,<br />

principalmente a própria mãe e os irmãos mais velhos. Sem ida<strong>de</strong> ainda para compreen<strong>de</strong>r a<br />

dinâmica do seu ambiente, com o passar do tempo, o <strong>de</strong>poente fora tomando emprestadas as<br />

narrativas <strong>de</strong> seus familiares, a respeito da matéria primal <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong><br />

“fabricar”, a partir <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> memórias recortadas, a sua própria. Tudo isso realizado<br />

por meio <strong>de</strong> um processo coletivo, lento, cambiável e quase natural. A memória individual<br />

não se encapsula; porquanto, para evocar seu próprio passado, uma pessoa necessita recorrer<br />

às lembranças dos <strong>de</strong>mais, se remetendo-se a pontos <strong>de</strong> referência que são fixados pela<br />

socieda<strong>de</strong>. Halbwachs supõe que<br />

o funcionamento da memória individual não é possível sem estes instrumentos que<br />

353 O <strong>de</strong>poente solicitou sigilo, tendo em vista estar ainda na ativa e sujeito a graves sanções disciplinares, por<br />

conta <strong>de</strong> opiniões pessoais, a respeito <strong>de</strong> fatos relacionados ao Exército e pessoas que, <strong>de</strong> uma maneira ou <strong>de</strong><br />

outra, o representam.

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