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subalternida<strong>de</strong> dos sargentos, como simples monitores, diante da exclusivida<strong>de</strong> do papel <strong>de</strong><br />

instrutores conferido aos oficiais. Um sargento auxiliar <strong>de</strong> instrução ser consi<strong>de</strong>rado o<br />

“melhor instrutor” <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>safiava a lógica da divisão formal das tarefas entre<br />

oficiais e sargentos e <strong>de</strong>monstrava uma continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa situação, apesar da insistência da<br />

alta cúpula em reforçar essas fronteiras após 1964. Os sargentos permaneceram instruindo os<br />

soldados, mesmo não tendo o papel formal e regulamentar <strong>de</strong> “instrutores”. Essa situação<br />

permaneceu gerando ressentimentos no grupo dos sargentos, da mesma forma que no pósguerra.<br />

Possivelmente a baixa autoestima do grupo, fruto <strong>de</strong>sse ressentimento, é que fazia<br />

com que se fixasse tão fielmente, nas suas memórias, as ocasiões em que sargentos foram<br />

assemelhados aos oficiais, em <strong>de</strong>terminados aspectos, principalmente quanto a comandarem<br />

pelotões, a darem instruções aos recrutas ou mesmo ensinarem algum oficial <strong>de</strong>terminadas<br />

minúcias <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Barriles faz questão <strong>de</strong> frisar que abandonou a tropa somente em<br />

1978, passando seu pelotão “para um 1º tenente da Aca<strong>de</strong>mia” (BARRILES, 2011). Naquele<br />

momento, funcionalmente, um 1º sargento equivalia-se a um 1º tenente.<br />

O ressentimento entre oficiais e sargentos, além <strong>de</strong> aflorar funcionalmente nas<br />

condições das mais variadas, toca também no seio familiar. O sargento Barriles saiu da tropa<br />

em Santa Rosa, em 1978, sendo transferido para o Colégio Militar <strong>de</strong> Curitiba, para ser<br />

monitor <strong>de</strong> alunos. O antigo tropeiro traria aos alunos do colégio a mesma ru<strong>de</strong>za disciplinar<br />

com a qual estava acostumado a infligir aos recrutas que comandava:<br />

215<br />

Aí eu começo a pegar no pé, fui ameaçado uma vez e, outra vez, levei uma<br />

advertência. Mas eu falei pro comandante do... é meu jeito <strong>de</strong> trabalhar, trabalhei<br />

sempre assim na tropa e não vou passar a mão na cabeça <strong>de</strong> aluno relapso!<br />

(BARRILES, 2011).<br />

Por causa <strong>de</strong>ssas supostas perseguições aos filhos <strong>de</strong> oficiais, Barriles fora punido<br />

com uma advertência pública entre oficiais e sargentos, feita em uma reunião. Segundo ele,<br />

cobrava rigorosamente, também, <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> sargentos, chegando a se indispor com colegas<br />

do mesmo círculo, que tinham filhos no colégio. Mas a sua punição <strong>de</strong>veu-se somente por<br />

perseguir “filho <strong>de</strong> oficial”, no sentido <strong>de</strong> que talvez tivesse que prestar a eles um tratamento<br />

melhor que aos filhos <strong>de</strong> praças e civis.<br />

Os melindres entre os grupos <strong>de</strong> sargentos e oficiais podiam ser, no nível individual,<br />

negociáveis, <strong>de</strong> acordo com a personalida<strong>de</strong> dos indivíduos em questão. Perfis autoritários e

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