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ecrutas para crerem que cada uma das ativida<strong>de</strong>s a serem <strong>de</strong>senvolvidas no exercício no<br />

terreno haveria <strong>de</strong> ter uma finalida<strong>de</strong>. Segundo ele,<br />

250<br />

Cada um tem que ter os seus méritos! Faça o seu trabalho corretamente, então, lá<br />

ninguém vai sacanear. Se o cara forçar um pouquinho pra fazer uma coisa ou outra,<br />

sugar um pouquinho, mas tem finalida<strong>de</strong>. Você às vezes vai errar, ele vai te chamar a<br />

atenção, e vai mandar você pagar uns canguru! Aí já fica preparado (MOREIRA,<br />

2011)<br />

Mas fora também uma palestra conscientemente moralizante e disciplinadora.<br />

Moreira percebera que estaria assistindo a sua palestra, no fundo do auditório, o chefe da<br />

seção <strong>de</strong> operações do batalhão. Disse aos recrutas que sabia que no meio daqueles cerca <strong>de</strong><br />

300 colegas havia “maconheiro” e “ladrão” que iriam permanecer escondidos, mas que se<br />

fossem pegos, o <strong>de</strong>stino seria irem embora <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>sonrada: “Aí eu fui na área da<br />

disciplina. Isso aí foi bom para a disciplina do batalhão. Se você mexer no armário, você vai<br />

embora, enten<strong>de</strong>u” (MOREIRA, 2011).<br />

Ao final da palestra, apelando à emotivida<strong>de</strong> do relacionamento familiar, diz que<br />

arrancou lágrimas e <strong>de</strong>pois aplausos dos assistentes. O orgulho por aquela manifestação <strong>de</strong><br />

reconhecimento o fez pensar: “Que coisa boa!...perdi muito tempo ali já. Porque eu já era<br />

primeiro 348 ali já, né” (MOREIRA, 2011). A partir <strong>de</strong>sse evento, conta A<strong>de</strong>ir, que suas portas<br />

se abriram e, durante os <strong>de</strong>z anos seguintes, as suas palestras se repetiram, até mesmo em<br />

outra unida<strong>de</strong>. Conseguiu que o comandante autorizasse a introdução <strong>de</strong>ssa “orientação<br />

cristã” no Quadro <strong>de</strong> Trabalho Semanal (QTS) da unida<strong>de</strong> (MOREIRA, 2011).<br />

Nessas palestras, os comandantes escalavam também alguns tenentes, e A<strong>de</strong>ir conta<br />

que se sentiu surpreso quando um médico, que seria, segundo ele, alguém com “muito mais<br />

conhecimento”, ficara prestando atenção em suas palavras (MOREIRA, 2011). Essas<br />

palestras tinham a intenção explícita <strong>de</strong> comover e sensibilizar moralmente indivíduos que,<br />

pela necessida<strong>de</strong> funcional, <strong>de</strong>veriam ser <strong>de</strong>ssensibilizados. Uma contradição aparente que<br />

po<strong>de</strong> ser entendida à luz da potencialida<strong>de</strong> disciplinadora do discurso cristão, proferido por<br />

alguém que, para os recrutas, seria relativamente bem sucedido profissionalmente – <strong>de</strong>tentor<br />

<strong>de</strong> um certo status no quartel –, mas, ao mesmo tempo, alguém com quem eles se sentissem<br />

muito próximos, pelo linguajar e atitu<strong>de</strong>s, tão simples como o <strong>de</strong>les próprios.<br />

A<strong>de</strong>ir parecia se sentir quase como um irmão mais velho daqueles recrutas. Apesar<br />

348 Referiu-se à graduação <strong>de</strong> primeiro sargento.

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