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tenente, do Quadro Auxiliar <strong>de</strong> Oficiais, o qual o <strong>de</strong>poente reputa ser extremamente generoso<br />

e fraterno. Essa generosida<strong>de</strong> fora pivô <strong>de</strong> um fato ocorrido que <strong>de</strong>ixa bem clara a relativa<br />

liberda<strong>de</strong> que um sargento possui no trato com um soldado, e como é valorada, no Exército, a<br />

esperteza obediente dos soldados, no cumprimento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns, sendo essa esperteza<br />

consi<strong>de</strong>rada um sinônimo <strong>de</strong> inteligência, pouco consi<strong>de</strong>rando os outros tipos <strong>de</strong> inteligência,<br />

senão essas utilizadas para fins práticos da execução <strong>de</strong> tarefas, que pouco ou nada exigem<br />

intelectualmente.<br />

A respeito <strong>de</strong>ssa observação, é necessário que se diga, em um caráter digressivo, que,<br />

aliás, em outra parte da entrevista, o <strong>de</strong>poente refere-se à inteligência <strong>de</strong> um sargento,<br />

partindo <strong>de</strong> um eixo bastante semelhante ao que fora utilizado por ele mesmo para mencionar<br />

o soldado, <strong>de</strong>svalorizando as manifestações <strong>de</strong> inteligência quando elas não vêm atreladas ao<br />

trabalho executório. A inteligência é observada, então, a partir <strong>de</strong> uma ótica utilitarista. Em<br />

uma oportunida<strong>de</strong>, durante sua vida militar,<br />

286<br />

tinha um sargento, colega nosso, noventa e seis, noventa e sete, não me lembro que<br />

ano que foi, ele não fazia absolutamente nada. E o cara, ele era Engenheiro<br />

Eletrônico, eu acho. Ele tinha nível superior. E o cara era extremamente inteligente.<br />

Só que não gostava <strong>de</strong> trabalhar, né (Entrevista 5).<br />

Parece que essa postura não é fruto <strong>de</strong> um indivíduo somente, mas inserido em todo<br />

um sistema <strong>de</strong> pensamento reproduzido pelos discursos militares. E não específico <strong>de</strong> um<br />

grupo social, mas <strong>de</strong> todas as camadas hierárquicas. O manual do Exército, editado em 1953,<br />

Princípios <strong>de</strong> Chefia, enumerando a inteligência como uma das qualida<strong>de</strong>s da chefia, a<br />

vincula intrinsecamente às ativida<strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong> comandantes militares, pois ela seria<br />

“revelada pela capacida<strong>de</strong> intelectual na solução dos problemas que se apresentam ao seu<br />

escalão <strong>de</strong> comando.” 359<br />

Parece-nos que essa <strong>de</strong>finição utilitarista <strong>de</strong> inteligência, necessariamente ligada à<br />

solução <strong>de</strong> problemas da vida prática, correspon<strong>de</strong> a uma universal da socialização militar, em<br />

todos os níveis, mesmo entre a alta oficialida<strong>de</strong>. Daí vem, talvez, o fato <strong>de</strong> o termo “teórico”,<br />

utilizado para qualificar um militar do Exército, possuir, entre os membros daquela<br />

configuração, um significado extremamente negativo.<br />

Depois <strong>de</strong>ssa necessária divagação, retornemos ao ponto que a originou. Pois bem.<br />

359 EXÉRCITO BRASILEIRO: Estado Maior do Exército. Manual <strong>de</strong> Campanha C 20-10, “Princípios <strong>de</strong><br />

chefia”, 1953, p. 17.

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