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do próprio âmbito dos sargentos, não com os oficiais, consi<strong>de</strong>rados na hierarquia militar os<br />

naturais instrutores dos praças. Ou seja, esse tipo <strong>de</strong> trote facilitaria, ainda que indiretamente,<br />

a manutenção <strong>de</strong> uma reserva <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res ao grupo <strong>de</strong> sargentos, em formar-se a si mesmo, em<br />

termos <strong>de</strong> saber técnico e <strong>de</strong> saber relacional. O ser sargento passaria, também, por esse<br />

processo <strong>de</strong> aprendizagem individual dos limes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do grupo, em relação aos oficiais e<br />

aos soldados.<br />

Também indiretamente, esse tipo <strong>de</strong> trote auxiliaria na manutenção do status quo dos<br />

estabelecidos, já que reforçaria, ainda que fazendo pilhéria <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r, um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

submissão às vonta<strong>de</strong>s dos oficiais, por mais absurdamente <strong>de</strong>spóticas que parecessem suas<br />

or<strong>de</strong>ns e o seu comportamento no trato com os sargentos. Mas esses trotes, assim como os<br />

outros, têm sido repudiados oficialmente e, aos poucos, também não oficialmente, tanto por<br />

oficiais quanto por sargentos, e apresentam uma tendência a se extinguirem.<br />

Se o <strong>de</strong>poente nunca presenciou violências físicas diretas, legitimadas pelo po<strong>de</strong>r<br />

hierárquico, ele já as percebera <strong>de</strong> maneira sublimada, principalmente nos acampamentos,<br />

on<strong>de</strong> a rusticida<strong>de</strong>, a coragem e a paciência dos soldados são testadas ao limite. Segundo ele,<br />

o que acontecia era que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terminadas as instruções, por volta das onze horas da noite,<br />

ou meia noite, quando os recrutas, em <strong>tese</strong>, estariam liberados para o <strong>de</strong>scanso, os<br />

responsáveis diretos pela formação dos recrutas incluíam, por conta própria, sem o<br />

conhecimento do comando da Unida<strong>de</strong>, ativida<strong>de</strong>s extras, muitas <strong>de</strong>las sem nenhuma<br />

finalida<strong>de</strong> para a instrução propriamente dita, que encurtavam o seu sono.<br />

O <strong>de</strong>poente crê que “isso é um paralelo do castigo físico, um pouco <strong>de</strong> trote”<br />

(Entrevista nº 6), motivado talvez pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r por parte dos<br />

tenentes e sargentos recém-formados. Depois <strong>de</strong> terem passado algum tempo sendo muito<br />

pressionados em suas escolas <strong>de</strong> formação, talvez os membros dos dois grupos sentissem que<br />

aquele seria o momento <strong>de</strong> “tirar uma forra” daquilo que sofreram em sua formação<br />

(Entrevista nº 6).<br />

O que é percebido pelo <strong>de</strong>poente como “tirar uma forra” é uma hipó<strong>tese</strong> que não<br />

<strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scartada, <strong>de</strong> imediato, para alguns casos, apesar <strong>de</strong> absurdamente irracional, pois<br />

“ir à forra”, obrigatoriamente, <strong>de</strong>veria ser relacionado àqueles indivíduos, oficiais e sargentos,<br />

que os formaram. Há, contudo, talvez, uma explicação mais plausível, relacionada ao próprio<br />

processo <strong>de</strong> socialização daqueles jovens oficiais e sargentos, já que, segundo o <strong>de</strong>poente,<br />

esse padrão <strong>de</strong> “tirar uma forra” se repetiu em muitos casos que presenciou.<br />

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