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Mas o controle objetivo do po<strong>de</strong>r punitivo <strong>de</strong> superiores po<strong>de</strong> ser encarado como<br />

apenas uma faceta das limitações objetivas que vieram sendo impostas aos po<strong>de</strong>res, até então<br />

autocráticos, dos indivíduos em posições superiores. Houve outras facetas que<br />

implementaram o confinamento das pulsões <strong>de</strong> superiores em territórios <strong>de</strong>terminados. O<br />

resultado imediato <strong>de</strong>sse confinamento po<strong>de</strong> ser sentido na abordagem, supostamente<br />

diferenciada, <strong>de</strong> superiores em relação aos seus subordinados. O <strong>de</strong>poente acredita que<br />

“antigamente o pessoal apelidava...e acabava expondo muito mais a pessoa do subordinado”<br />

(Entrevista nº 6). Os recrutas, recém-incorporados ao Exército, seriam os que mais sofriam<br />

com essa exposição gratuita e vexatória <strong>de</strong> sua pessoa.<br />

Um aprofundamento das aplicações <strong>de</strong>ssas humilhações morais à pessoa, que eram<br />

bastante comuns, principalmente com os recrutas, seriam as humilhações físicas, com os<br />

chamados “trotes” ou “pagações”. Segundo o <strong>de</strong>poente, tem havido uma sensível mudança<br />

não somente da postura oficial, mas das posturas individuais daqueles em posições superiores.<br />

Segundo ele, não só o trato ignominioso, que fere moralmente a pessoa, mas também a<br />

humilhação física estariam retraindo, como mo<strong>de</strong>los vigentes <strong>de</strong> socialização no Exército:<br />

333<br />

Isso ao longo do tempo veio diminuindo bastante. E hoje ele tá realmente proibido.<br />

Quando eu ingressei, ele não era estimulado. Ele já estava numa condição <strong>de</strong> alerta.<br />

Mas ainda tinha bastante. Há quem diga que nos anos anteriores, era totalmente<br />

aberto. Mas hoje a gente vive numa situação <strong>de</strong> muito mais respeito à pessoa. O<br />

soldado que incorpora hoje ele não incorpora simplesmente com uma numeração.<br />

Um número <strong>de</strong> um efetivo. Tem-se cada vez mais se preocupado em tratar ele como<br />

realmente um indivíduo (Entrevista nº 6).<br />

A origem <strong>de</strong>ssa consciência <strong>de</strong> respeito às individualida<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

maior humanida<strong>de</strong> no tratamento <strong>de</strong> hierarquicamente inferiores, no entanto, não estaria<br />

intrinsecamente ligada a princípios filosóficos ou a convicções religiosas <strong>de</strong> a todos fazer o<br />

bem ou coisa que o valha. Ela parece estar arraigada ao temor dos estabelecidos em ver a<br />

Instituição ser constantemente associada, particularmente pela imprensa, a atos <strong>de</strong>sumanos,<br />

principalmente após a saída dos militares do po<strong>de</strong>r. O <strong>de</strong>poente, compreen<strong>de</strong>ndo a origem<br />

<strong>de</strong>ssa consciência, explica que “o que acontece é que o quartel é visto por aquele pessoal mais<br />

antigo como um local em que seja permitido tortura, ou o pessoal é tratado <strong>de</strong> forma<br />

<strong>de</strong>sumana” (Entrevista nº 6).<br />

Essa consciência parece difundir-se por gravida<strong>de</strong>, por meio, primeiro, das ameaças<br />

externas <strong>de</strong> punição àqueles que praticam o trote. Depois, com o passar do tempo, essas

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