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morre logo. Eles irão lhe atribuir toda sorte <strong>de</strong> missões absurdas e arriscadas, que<br />

terminarão matando você em pouco tempo! (SOARES, 1985, p. 263)<br />

120<br />

Quem seriam “eles”, afinal Cremos que seriam os oficiais do Estado-Maior e alguns<br />

comandantes <strong>de</strong> subunida<strong>de</strong>s, pois eram “eles” que atribuíam as missões aos tenentes e<br />

sargentos. Eram os operadores intelectuais da guerra. Os operadores braçais ou executores<br />

seriam os tenentes, sargentos e soldados. O pronome “eles”, <strong>de</strong>sse modo, aponta para a<br />

presença <strong>de</strong> um “nós”, que não exclui as funções <strong>de</strong> tenente para baixo. Parece haver o<br />

reconhecimento, por parte <strong>de</strong> Soares, <strong>de</strong> que o papel exercido por um tenente era apenas uma<br />

“função”, assim como a <strong>de</strong> sargento. E <strong>de</strong> que o fato <strong>de</strong> um sargento extrapolar os limites da<br />

sua função e absorver as funções <strong>de</strong> um tenente não era muito bem vindo pela alta<br />

oficialida<strong>de</strong>. Talvez a perda <strong>de</strong> um sargento comandante <strong>de</strong> pelotão não fosse sentida com<br />

tanto pesar como a <strong>de</strong> um tenente. Outra passagem parece confirmar essa hierarquia também<br />

em relação à significação das perdas <strong>de</strong> vidas humanas. 195<br />

Nesse jogo <strong>de</strong> relações funcionais, a hierarquia aparece não somente como um papel<br />

organizador <strong>de</strong>ssas funções, mas encobria todo o corpo <strong>de</strong>ssas relações. Entrelaçada a ela, a<br />

Guerra parece ter feito surgir resultados bem diferentes para cada um dos grupos hierárquicos.<br />

Para os sargentos, ficaria claro que o grupo possuía uma função prepon<strong>de</strong>rante na sua<br />

ativida<strong>de</strong> fim <strong>de</strong> executar a guerra, e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>la terminada, concluíram que possuíam uma<br />

capacida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> articulação. Concluíram, também, que a função <strong>de</strong> sargento em<br />

combate era muito importante para serem tratados da forma que eram tratados pelos oficiais.<br />

Mas tiveram que conviver durante ainda muito tempo com as distinções da guerra.<br />

Particularmente com as distinções simbólicas ostentadas por quem não a fez.<br />

b. Os símbolos das distinções: as concessões hierarquizadas das medalhas<br />

No <strong>de</strong>senrolar da II Guerra, o Exército ainda não possuía uma con<strong>de</strong>coração para<br />

premiar seus militares em campanha. Após exatamente um mês do <strong>de</strong>sembarque do 1º escalão<br />

da FEB, o Decreto-Lei nº 6.795 <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1944, criou três con<strong>de</strong>corações. A<br />

195 Sobre o episódio do resgate do que parece ser o capitão João Tarcísio Bueno, conta Leonércio Soares que o<br />

Maj Jacir (ou, na realida<strong>de</strong>, Jacy) havia dado or<strong>de</strong>m a um soldado que buscasse o corpo do capitão sob fogos<br />

inimigos. Após a morte do soldado, o major teria lançado em sua parte que se tratava <strong>de</strong> um soldado “não<br />

i<strong>de</strong>ntificado”. Ácido como é toda a sua pena, Soares dispara: “A vida do soldado pouco ou nada valia. O<br />

importante era resgatar o corpo do capitão” (SOARES, 1985, pp. 118-126).

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