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os membros do QAO “oficiais que não têm a preparação militar completa” (MURICY, 1981,<br />

p. 672). Eram vistos por uma parcela da oficialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carreira como sargentos melhorados.<br />

A percepção já antiga, por parte dos oficiais, <strong>de</strong> serem os sargentos – e praças <strong>de</strong> uma<br />

maneira geral – cidadãos <strong>de</strong> segunda classe, escorria por gravida<strong>de</strong> até à base da pirâmi<strong>de</strong><br />

hierárquica. Ela atuava na socialização dos sargentos, com um reforço da sua autoimagem<br />

inferiorizada, ao referenciar-se aos oficiais. Uma das fontes analisadas neste trabalho,<br />

sargento dos anos <strong>de</strong> 1950, menciona que<br />

145<br />

um sargento era uma sub-raça como costumava dizer, né... Era, era assim que<br />

funcionava. Os oficiais tratavam você assim como um cara analfabeto praticamente,<br />

né... Os oficiais eram a elite né...bom... Tinha que ser também né. 260<br />

Elias explicaria esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> tratamento – em que a inferiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um grupo,<br />

com um pequeno coeficiente <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, é reforçada por outro, com um maior gradiente <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r – como um padrão.<br />

Afixar o rótulo <strong>de</strong> 'valor humano inferior' a outro grupo é uma das armas usadas<br />

pelos grupos superiores nas disputas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, como meio <strong>de</strong> manter sua<br />

superiorida<strong>de</strong> social. Nessa situação o estigma social imposto pelo grupo mais<br />

po<strong>de</strong>roso ao menos po<strong>de</strong>roso costuma penetrar na autoimagem <strong>de</strong>ste último e, com<br />

isso, enfraquecê-lo e <strong>de</strong>sarmá-lo (ELIAS, 2000, p. 24)<br />

Ambos manteriam uma relação <strong>de</strong> recíproca <strong>de</strong>pendência entre si, construindo uma<br />

figuração social em que os <strong>de</strong> maior po<strong>de</strong>r são consi<strong>de</strong>rados “estabelecidos”, e os <strong>de</strong> menor<br />

po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados “outsi<strong>de</strong>rs”.<br />

É a partir <strong>de</strong>sse sentido, numa trama complexa e ambígua, que os sargentos po<strong>de</strong>m<br />

ser consi<strong>de</strong>rados “estabelecidos”, quando comparados aos soldados; porém, ao compará-los<br />

aos oficiais, são “outsi<strong>de</strong>rs”. São os indivíduos <strong>de</strong>sse grupo, <strong>de</strong> caráter dúbio, que interessam<br />

ao presente trabalho e suas vozes particulares serão privilegiadas nos capítulos seguintes.<br />

Testemunhas <strong>de</strong> suas gerações, suas memórias e percepções acerca do universo que<br />

vivenciaram, diretamente ou indiretamente, – com todas as contradições que se estabelecem<br />

numa narrativa controlada e potencialmente manipulada, como são as entrevistas (AMADO<br />

& FERREIRA, 2002, pp. 37-41) – são imagens vivas <strong>de</strong> um tempo recente que se passou. São<br />

imagens vivas <strong>de</strong> um grupo específico <strong>de</strong>ntro do Exército, que tem sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> construída,<br />

260<br />

LUZ, Abdon. [Capitão do QAO] Entrevista concedida em 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2011, na residência do <strong>de</strong>poente,<br />

em Curitiba.

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