09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Emocionalmente fragilizados, os indivíduos talvez ten<strong>de</strong>riam a ser mais suscetíveis à<br />

passivida<strong>de</strong> diante <strong>de</strong> coações morais e físicas, como acontece no amplo e continuado<br />

processo <strong>de</strong> socialização militar, principalmente com os recrutas e sargentos novatos, praças a<br />

quem as pressões socialmente homogeneizadoras dirigem-se com uma maior violência,<br />

particularmente nos rituais <strong>de</strong> passagem, organizados em campanha, os chamados<br />

acampamentos.<br />

Além do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> expressar sua fé religiosa, por meio <strong>de</strong> sua experiência <strong>de</strong> vida<br />

como sargento, A<strong>de</strong>ir parecia ter consciência plena da função disciplinadora <strong>de</strong> suas<br />

comoventes palavras. E o comandante <strong>de</strong> sua unida<strong>de</strong> também. Terminada aquilo que ele<br />

mesmo chama <strong>de</strong> “lição <strong>de</strong> moral”, vinham as lágrimas, que faziam com que A<strong>de</strong>ir concluísse<br />

que<br />

252<br />

“quando você mexe na família, quando você mexe na intimida<strong>de</strong> da pessoa, por<br />

mais malvado que ele seja, o cara tem coração, cara! O coração <strong>de</strong>le... <strong>de</strong> pedra, com<br />

a palavra bem colocada... ele volta a ter um coração <strong>de</strong> carne. Aí ele vai se<br />

sensibilizar, enten<strong>de</strong>u Então, ele [o comandante] gostava que eu palestrasse...”<br />

(MOREIRA, 2011).<br />

Nesse ínterim, A<strong>de</strong>ir já havia saído da função <strong>de</strong> Brigada e ido para a função <strong>de</strong><br />

monitor do Núcleo <strong>de</strong> Preparação <strong>de</strong> Oficiais da Reserva (NPOR) do 20º BIB, lá<br />

permanecendo por três anos. Ele haveria <strong>de</strong> lá permanecer por quatro anos, “mas um<br />

probleminha que teve aí” (MOREIRA, 2011), o fez ficar somente 3 anos. Não comentou nada<br />

a respeito do ocorrido; contudo, o fato parece tê-lo magoado profundamente, pois qualifica a<br />

atitu<strong>de</strong> do seu protagonista – seu antigo chefe, cujo nome também prefere não citar – pelo<br />

termo “falsida<strong>de</strong>” (MOREIRA, 2011). Diz ele: “A gente se dispõe todo e às<br />

vezes...aproveitam um pouquinho da bonda<strong>de</strong> da gente e acaba nos traindo como aconteceu”<br />

(MOREIRA, 2011).<br />

c. Variâncias temporais do “imperativo da afinida<strong>de</strong>” 349<br />

Saído do NPOR, tornou a assumir as funções <strong>de</strong> Brigada da unida<strong>de</strong>. No final do<br />

349 Alusão a John Keegan, cuja <strong>tese</strong> é a <strong>de</strong> que o comando militar possuiria 5 imperativos: da afinida<strong>de</strong>, da<br />

prescrição, da sanção, da ação e do exemplo. O da afinida<strong>de</strong> seria a dupla e paradoxal necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

afastamento e <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong>, do comandante militar, a fim <strong>de</strong> alimentar em seus subordinados a aura a<br />

respeito <strong>de</strong> sua posição e <strong>de</strong> suas or<strong>de</strong>ns, e, ao mesmo tempo, alimentar naqueles que são solicitados a morrer<br />

sob suas or<strong>de</strong>ns a certeza <strong>de</strong> que não serão <strong>de</strong>ixados morrer sozinhos. (KEEGAN, 1999, pp. 358-359).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!