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O estudo civil parece ter sido complementar à dinâmica intelectual dos sargentos<br />

<strong>de</strong>ntro dos quartéis, pois, pelo que nos contam algumas fontes, os sargentos instruíam os seus<br />

soldados, pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1918. Aparentemente contraditório, o Marechal Lott relata que<br />

em 1918, ainda como tenente, fora <strong>de</strong>signado para comandar uma Companhia recém-criada<br />

em Belo Horizonte, que compondo o quadro <strong>de</strong> instrutores ele próprio, alguns sargentos e<br />

cabos, havendo um sargento em especial, <strong>de</strong> nome Carlindo, “que era muito bom instrutor e<br />

muito paciente” (LOTT, 1978). Linhas abaixo, na mesma entrevista, ele nega que os sargentos<br />

fossem instrutores, porque, segundo ele<br />

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quem dirige e ministra a instrução é o oficial, tendo em geral o sargento como um<br />

auxiliar. O oficial ministra direta e especialmente a instrução <strong>de</strong> combate, como<br />

todos os assuntos mais importantes da instrução militar, estando os sargentos na<br />

posição <strong>de</strong> colaboradores (LOTT, 1978)<br />

É esclarecedora essa aparente contradição. Seu segundo posicionamento assume um<br />

cioso compromisso <strong>de</strong> firmar uma posição <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> dos sargentos, apenas<br />

colaboradores da instrução dos soldados, já que, ainda segundo o Marechal Lott, “o oficial<br />

tem uma cultura muito superior à do sargento” (LOTT, 1978). Essa posição nos ajuda a<br />

estruturar todo o terreno relacional entre os sargentos e os oficiais do período pós-guerra. A<br />

profissionalização dos sargentos possibilitou-os que se firmasse uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para si, <strong>de</strong><br />

condutores e instrutores e “patronos” (STEPAN, 1975, p. 118) <strong>de</strong> homens, do mesmo modo<br />

que já se havia firmado nos oficiais do pós-1930.<br />

Contudo, essa situação que se dava na prática não possuía respaldo no universo i<strong>de</strong>al<br />

dos regulamentos militares, tendo em vista que, formalmente, os oficiais continuaram a ter<br />

exclusivida<strong>de</strong> no papel <strong>de</strong> instrutores. No mundo i<strong>de</strong>almente imaginado, e escrito nos<br />

regulamentos, cada um dos pelotões, <strong>de</strong> todas as unida<strong>de</strong>s do Exército, tinha seus tenentes<br />

comandantes, naturais instrutores dos sargentos, cabos e soldados. Porém, na prática,<br />

faltavam tenentes para a maioria dos pelotões. E os sargentos eram quem assumiam o<br />

comando e o papel <strong>de</strong> instrutor. O que era previsto acontecer eventualmente, por vezes<br />

perdurava-se por anos a fio. Portanto, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r que não houve uma contradição nas<br />

palavras <strong>de</strong> Lott, ele apenas expôs duas realida<strong>de</strong>s coexistentes que se negociavam, mas que<br />

também se chocavam: a normativa e a da práxis cotidiana.<br />

A competência durante as instruções ministradas parecia emprestar aos sargentos um<br />

relativo status, tanto perante os soldados como perante os oficiais. Abdon Luz faz uma

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