09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“outsi<strong>de</strong>rs” como pessoas biologicamente inferiores (segundo Elias, “o sentido literal do<br />

termo 'aristocracia' po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> exemplo”); seguida da exclusão dos “outsi<strong>de</strong>rs” dos<br />

contatos sociais não profissionais com os membros estabelecidos, na forma <strong>de</strong> evitar um tipo<br />

<strong>de</strong> poluição social e, em casos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> discrepância <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res entre um e outro grupo, um<br />

contágio biológico, pela sujeira dos “outsi<strong>de</strong>rs”; tudo isso com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser reservar as<br />

posições sociais com maior potencial <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, exclusivamente, aos estabelecidos (ELIAS,<br />

2000, pp. 19-26). Na fala do <strong>de</strong>poente, há vestígios <strong>de</strong> todas essas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

340<br />

f. A economia das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r intergrupos: o equilíbrio tenso<br />

entre afastamentos e aproximações<br />

Materializando o fosso social existente nessa relação – além dos já notórios e<br />

cotidianos elementos distintivos entre as posições sociais, tais como o seu ranqueamento por<br />

meio <strong>de</strong> símbolos (divisas ou galões), uso <strong>de</strong> peças exclusivas <strong>de</strong> uniformes, uso <strong>de</strong> objetos<br />

cotidianos ou empregados nos cerimoniais –, a gastronomia também é utilizada para reforçar<br />

os posicionamentos <strong>de</strong> cada um dos grupos <strong>de</strong>ntro da figuração Exército. O <strong>de</strong>poente conta<br />

que serviu em uma unida<strong>de</strong> em que existiam duas cozinhas separadas: uma para os oficiais e<br />

outra para os praças. A cozinha dos oficiais, na percepção do <strong>de</strong>poente, preparava uma<br />

alimentação bastante diferente em relação à alimentação dos sargentos e subtenentes. Por sua<br />

vez, os cardápios das refeições <strong>de</strong>stes eram, também, mais bem elaborados se comparados ao<br />

cardápios dos soldados e cabos. Enten<strong>de</strong>ndo que os ingredientes eram os mesmos, o <strong>de</strong>poente<br />

crê que apenas os preparos eram diferentes, hierarquizados conforme o seu público comensal.<br />

Para os três refeitórios, havia a mesma combinação <strong>de</strong> arroz e feijão, com pequenos<br />

acréscimos, <strong>de</strong> acordo com o refeitório. Mas as maiores diferenças encontravam-se no<br />

preparo das proteínas e na oferta dos pratos frios. Para o refeitório dos oficiais, além da<br />

fartura e varieda<strong>de</strong> da salada, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um preparo mais sofisticado merecia uma<br />

proteína à altura, talvez, com os pedaços mais nobres <strong>de</strong> carne. No refeitório dos sargentos, os<br />

últimos a tomarem suas refeições (sempre os mais “mo<strong>de</strong>rnos”, pois a fila da entrada para o<br />

serviço obe<strong>de</strong>cia a uma rígida norma hierarquizante) às vezes ficavam sem salada, e a carne<br />

tinha um preparo mais simples, porém, ainda, com uma boa qualida<strong>de</strong>. Os cabos e soldados<br />

não tinham salada (sendo substituída, geralmente, pela farofa), e a carne era <strong>de</strong> inferior<br />

qualida<strong>de</strong> (Entrevista nº 6).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!