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315<br />

b. Status <strong>de</strong> grupo e relações figurativas: tensões em equilíbrio<br />

O <strong>de</strong>poente afirma que somente <strong>de</strong>pois da apresentação na sua primeira unida<strong>de</strong> é<br />

que foi começar a conhecer o que era “ter uma vida <strong>de</strong> sargento”, e somente a partir dali é que<br />

sentiu, num ambiente militar, que “era um indivíduo” (Entrevista nº 6). Desse modo, é lícito<br />

dizer que a força gregária, aplicada aos indivíduos que assumem funções no grupo dos<br />

sargentos, é <strong>de</strong> um quilate menor do que a mesma força aplicada aos soldados. Guardadas as<br />

proporções matemáticas entre os efetivos <strong>de</strong> cada um dos grupos e suas disposições<br />

hierárquicas, po<strong>de</strong>mos especular, por analogia, que essa força vai diminuindo à medida que o<br />

indivíduo vai ascen<strong>de</strong>ndo na ca<strong>de</strong>ira hierárquica, ocorrendo uma autonomização gradativa<br />

<strong>de</strong>sses indivíduos. Porém, essa autonomização é relativa, porquanto, normalmente, há uma<br />

substituição da força gregária imposta pelos estratos superiores, por impulsos crescentes <strong>de</strong><br />

autocontenção.<br />

Trazendo essa realida<strong>de</strong> empírica para um campo teórico, a partir da perspectiva<br />

eliasiana (ELIAS, 2000), po<strong>de</strong>-se dizer que essa substituição entre as pressões externas por<br />

uma interna, <strong>de</strong> autocontenção, nesse processo <strong>de</strong> ascensão hierárquica, faça parte <strong>de</strong>ssa<br />

mecânica <strong>de</strong> distanciamento da posição <strong>de</strong> “outsi<strong>de</strong>r” para uma relativa posição <strong>de</strong><br />

“estabelecido”. Relativa, posto que – reforçando – a posição <strong>de</strong> sargento po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rada, em relação ao <strong>de</strong> soldado ou <strong>de</strong> aluno, uma posição <strong>de</strong> “estabelecido”; porém,<br />

em relação à posição <strong>de</strong> um oficial, ele ainda permanecerá no grupo dos “outsi<strong>de</strong>rs”.<br />

Essa transição do <strong>de</strong>poente entre os dois status (o <strong>de</strong> aluno e o <strong>de</strong> sargento) – com<br />

seus distintos universos <strong>de</strong> procedimentos, exigências e posturas em relação a essas<br />

exigências – parece não ter sido vivida <strong>de</strong> maneira muito serena: “minha primeira experiência<br />

que eu tive como sargento, ela foi um tanto quanto negativa” (Entrevista nº 6). Ao se<br />

apresentar em sua unida<strong>de</strong>, a tarefa imposta pelo seu primeiro comandante <strong>de</strong> subunida<strong>de</strong> foi<br />

recebida com certo receio pelo <strong>de</strong>poente, por, segundo ele, se tratar <strong>de</strong> um <strong>de</strong>safio nada<br />

factível. Como haveria a formatura <strong>de</strong> passagem <strong>de</strong> comando da unida<strong>de</strong> na semana seguinte,<br />

fora-lhe imposto que aumentasse a disponibilida<strong>de</strong> das viaturas para a realização do <strong>de</strong>sfile<br />

motorizado. Segundo ele, à época, ficou com a impressão (e fora a primeira impressão do que<br />

seria <strong>de</strong>sempenhar a função <strong>de</strong> sargento), <strong>de</strong> que “iria ter que fazer milagre” (Entrevista nº 6).<br />

Além da enorme dimensão que lhe pareceu todas aquelas ativida<strong>de</strong>s, para uma<br />

semana, sentia-se como se tivesse que fazer todo aquele serviço sozinho. Na escola não o

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