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pelos sargentos <strong>de</strong> tentarem resistir ao praticamente irresistível “enquadramento” social dos<br />

oficiais. Uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> normalmente ligada a profissões liberais.<br />

Com o término da Segunda Guerra Mundial, a autoestima dos sargentos retornou do<br />

Teatro <strong>de</strong> Operações italiano em franca ascensão. Chegando ao Brasil, as <strong>de</strong>mandas sociais e<br />

profissionais do grupo estimularam à criação <strong>de</strong> associações e casas dos sargentos por todo o<br />

país, que se abriram com o passar do tempo à política partidária. A Escola <strong>de</strong> Sargentos das<br />

Armas fora o resultado das observações em campo <strong>de</strong> batalha dos Exércitos consi<strong>de</strong>rados<br />

mo<strong>de</strong>rnos, à época, <strong>de</strong> que também os sargentos <strong>de</strong>viam ser formados lí<strong>de</strong>res, conhecer e<br />

manipular equipamentos sofisticados. Para isso era necessária uma homogeneida<strong>de</strong> ainda que<br />

relativa na socialização militar <strong>de</strong> seu grupo, que passaria por uma exigência intelectual<br />

básica.<br />

A autoestima do grupo e os <strong>de</strong>sejos individuais por ascensão chocaram-se com o<br />

trato discriminatório dos oficiais. Insatisfeitos, a fim <strong>de</strong> tentarem escapar do trato<br />

inferiorizado, vindos <strong>de</strong> famílias pobres, alguns sargentos <strong>de</strong>dicavam-se aos estudos, seja com<br />

a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem oficiais ou profissionais liberais.<br />

A ilustração proporcionaria o exercício da crítica por parte dos indivíduos do grupo<br />

dos sargentos em um momento <strong>de</strong> efervescência cultural e política no país. A vida militar <strong>de</strong><br />

Abdon é perpassada, <strong>de</strong>sse modo, por elementos <strong>de</strong>sse contexto.<br />

A maneira orgulhosa e garbosa pela qual se percebia quando viu-se promovido a 3º<br />

sargento, mistura-se à sensação <strong>de</strong> ser tratado pelos oficiais como “um cara analfabeto” ou<br />

“uma sub-raça”, sendo ambas sensações apenas dois lados da mesma moeda. A autoestima<br />

elevada dos novos sargentos, proporcionada pela sensação <strong>de</strong> ascensão social e<br />

reconhecimento e prestígio, chocava-se com a necessida<strong>de</strong> do grupo dos oficiais <strong>de</strong><br />

autopreservação funcional, em manter-se seguros <strong>de</strong> sua condição <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>, o que<br />

passava por contínuos lembretes direcionados aos sargentos <strong>de</strong>ssa condição.<br />

Tendo os oficiais como parâmetro, alguns sargentos mantinham o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

prosseguir numa rota <strong>de</strong> ascensão social, potencialmente materializado pela manutenção dos<br />

estudos formais até tardiamente. Alguns com mais sorte iam para a faculda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pois por<br />

concurso cursavam a Escola <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e ingressavam na carreira <strong>de</strong> oficial. Outros, como fora<br />

o caso <strong>de</strong> Abdon Luz, permaneceram como sargentos.<br />

Ilustrado, politizado e articulado, o <strong>de</strong>poente chamou a atenção dos oficiais<br />

conservadores no pós-1964. Por essas qualida<strong>de</strong>s, fora preso para averiguações e posto à<br />

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