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si, ou – algumas vezes, como resultado do duelo disciplinar <strong>de</strong> forças <strong>de</strong>siguais – fisicamente.<br />

O álcool era atrelado à disciplina, não mais como um elemento estimulante à masculinida<strong>de</strong><br />

ou, ainda, a uma catarse passiva das angústias existenciais das praças, mas, sim, como<br />

elemento <strong>de</strong>sinibidor das pulsões <strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong> e diminuidor do autocontrole individual.<br />

Mais próximos dos soldados, os sargentos – mantenedores diretos da sua disciplina – eram os<br />

alvos preferidos das pulsões recalcadas dos soldados. Isso parece significar que os sargentos<br />

causavam graves tensões entre os soldados, com seus rompantes <strong>de</strong> violência e trato<br />

grosseiro. No quartel on<strong>de</strong> serviu como soldado, conta o <strong>de</strong>poente, havia sargentos que nem<br />

os próprios sargentos com eles tinham afinida<strong>de</strong>. De um modo geral, parecia não haver um<br />

relacionamento muito amistoso entre sargentos e soldados. Mesmo aquele sargento<br />

consi<strong>de</strong>rado “tranquilo” ou “gente boa” – conforme as categorizações dadas pelo próprio<br />

<strong>de</strong>poente, “na parte militar, ele arrochava (...). O cara podia ser tranquilo. Mas era militar”<br />

(Entrevista 5). Ser militar, nesse sentido, significa não abrir mão <strong>de</strong> suas prerrogativas<br />

hierárquicas e, por conseguinte, <strong>de</strong> sua função disciplinadora, em relação aos subordinados,<br />

exigindo-lhes enquadramento e marcialida<strong>de</strong> no trato: “durante o serviço, pegava aquele<br />

sargento que era tranquilo, o cara se transformava” (Entrevista 5).<br />

Talvez, muito por conta disso, havia uma tensão permanente entre os soldados e os<br />

sargentos. Possivelmente, uma tensão ainda maior do que entre os soldados e os oficiais, tanto<br />

pela proximida<strong>de</strong> entre os grupos como pelo efetivo do grupo <strong>de</strong> sargentos, numericamente<br />

maior do que o efetivo <strong>de</strong> oficiais e, por isso, percentualmente, talvez, mais sujeito a<br />

indivíduos dados a exacerbações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />

Segundo o <strong>de</strong>poente, “soldado não gostava nem do sargento, nem do oficial. Essa era<br />

a regra.” (Entrevista 5). Mas as <strong>de</strong>sforras dos soldados normalmente eram aplicadas a<br />

sargentos. Sendo comum haver, no âmbito das subunida<strong>de</strong>s, confraternizações <strong>de</strong> final <strong>de</strong> ano,<br />

era normal, segundo ele,<br />

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soldado que está dando baixa sair na porrada com sargento (...) Porque o sargento,<br />

ele tinha um contato mais direto. O oficial não. Mas o sargento Nossa! Eu vi várias<br />

pancadarias lá. Como soldado e, <strong>de</strong>pois, como sargento. O cara tomava umas<br />

cachaças e aí ele queria tirar o recalque (...) Por causa <strong>de</strong>sse tratamento (Entrevista<br />

5).<br />

Os oficiais e sargentos sentiam-se à vonta<strong>de</strong> para externarem aos soldados comuns<br />

seus rompantes <strong>de</strong> violência física e moral, fortemente temperados por um incontido sadismo,

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